quinta-feira, 15 de março de 2018

BASTA DE VIOLÊNCIA, CRIME E SELVAGERIA






                                                                    CUNHA E SILVA FILHO


       A violência no Brasil cresce assustadoramente e  não me reporto tão-só à violência praticada por bandidos, mas ações violentas  das quais a  sociedade  se torna calamitosamente   refém, ou seja,  violência sofrida  pelo cidadão  oriunda da própria estrutura  de segurança  do Estado  Brasileiro, seja na forma  de  condução  discricionária  do gerenciamento  do poder  público, seja  pela exclusão  de direitos  assegurados  constitucionalmente  ao povo em geral. Por conseguinte, a violência,  empregada   no seu  sentido mais lato  possível,  atinge o todo  das instituições, quer no governo federal,  nos governos  estaduais e nos governos municipais.
    Quem se encontra  no poder,  cedo ou tarde, vai mostrar  sua  verdadeira  fisionomia  moral e seu caráter. Esse comportamento  autoritário  é uma manifestação  da violência. Vejamos um exemplo: professores municipais  da capital paulista  revoltaram-se  com uma determinação  do prefeito segundo a qual  seria aumentada a alíquota de descontos do funcionalismo para a previdência social da Prefeitura de São Paulo. 
    Ora,  tal medida se me afigura um confisco  nos vencimentos   dos professores. Se o executivo faz  isso   a fim de   diminuir o rombo  bilionário   do Município,  a culpa não é dos professores que, em geral,  ganham  baixos salários. Isso é uma  insensatez porquanto  o  prefeito  deveria - isto sim -, diminuir drasticamente  as mordomias  dos altos escalões   do seu governo,  do legislativo, judiciário e  de outras  despesas astronômicas   que se acumulam  de governo  para governo. Além disso,   os professores que desejam  manter seus direitos  salariais  foram  violentamente  reprimidos por guardas municipais.
  A cena foi  de violência e ferocidade  sem tamanho na qual uma professora  que protestava  no recinto  da Câmara Municipal  teve seu nariz  quebrado  por  golpes de truculentos guarda. Esse incidente  depõe contra  a imagem de um prefeito que, ao  que tudo indica,  saiu  arranhada e o prejudicará  politicamente. Mais uma vez, a classe dos professores brasileiros  é recebida  com cassetetes, escudos  e selvageria. Como, então,  um país   quer se tornar  respeitado no mundo democrático  se não  protege seus professores do  arbítrio e da pusilanimidade   de guardas ignorantes  e despreparados?  
    Os gases lacrimogêneos  lançados contra professores   é sintoma  de  prepotência  de governantes   não talhados  para o exercício de um mandato no executivo. Esse prefeito, empresário, capitalista,  neoliberal,   se assim  continuar  se  comportando,   não terá  futuro   na política brasileira. É também claro sintoma da degradação em que se encontra a educação pública  nacional. Ora, um pais sem educação  e sem valorização dos docentes é uma país  fadado ao insucesso  e com riscos  em cair  no autoritarismo.   
   Não é sacrificando  os professores  que o prefeito  irá  alocar  recursos   para  sanear  as despesas  públicas. Num dos mandatos do  ex-presidente Lula, os funcionários  federais  também foram vítimas desses descontos  previdenciários  no  contracheque, quando o funcionalismo, mesmo  se aposentando, passou a descontar  para a “Seguridade  Social” após a aposentadoria. Todo o mundo engoliu sem protesto essa determinação esdrúxula e autoritária (forma de violência financeira imposta à sociedade)  do governo federal. É preciso  salientar que  o rombo  federal  se deve muito mais  à gastança  multimilionária  com  a máquina do Estado,  as mordomias  dos  congressistas com o Executivo e com o Judiciário.
   Os governos interferem arbitrariamente nos  vencimentos  do funcionalismo com a aprovação dos parlamentares, estes últimos quase sempre  acordes com  o executivo,  de seus decretos  ou leis   prejudicando  a vidas dessas pessoas, porém  não interferem  duramente  no aumento do custo de vida  da  população, nos aumentos  de impostos e taxas   de toda espécie a fim de  arrecadarem cada vez mais. A violência de  atos do governo só vale para aqueles que estão  dependentes   das demandas  governamentais. Contudo,  não vale para a economia, para o livre mercado , este sempre mais ávidos  do vil metal  e pouco se importando  com  o consumidor numa fórmula engendrada  do capitalismo  na base de “Se não compras  por falta  de  dinheiro,  há os que podem comprar.”
   O outro lado da violência, muito mais direto e transparente na sua   potencialidade  deletéria, constitui a violência dos bandidos tanto  a dos  facínoras  dos morros  quanto  a   dos colarinhos brancos. Os primeiros  se expandindo  pelo   país  inteiro, os segundos, igualmente. Ambos prejudiciais e talvez  os de colarinho branco  ainda mais   prejudiciais  porque afetam  medularmente   a vida do país em todos os setores, uma vez que  causa devastação  financeira em razão dos desvios  bilionários  dos Erário Público, prejudicando profundamente   setores vitais  da sociedade:  educação,  saúde, segurança, habitação   e transporte.
  Quer dizer,  quanto mais  propinas   vão se alojar  cinicamente nos bolsos  de políticos  e empresários   marginais tanto mais  frágil se torna  a estrutura do Estado e sua forma  real de democracia. Por isso, o combate à impunidade  é uma estratégia de segurança  para a  não derrocada da democracia  e estado de direito, assim como  a impunidade de bandidos  controladores  dos morros é fator  de desordem social e demonstração da fragilidade de nossas políticas de segurança.
  Cumpre,  pois,  ao Estado Brasileiro   combater  severamente  os dois lados da moeda, ambos  podres e repugnantes aos olhos  dos homens de bem. A luta aguerrida contra esses dois lados não é uma utopia,  é exequível. Basta  vencê-los com as armas  da lei e do voto   consciente posto que,  nas duas situações,  haja  muitas  falhas, falta de  consciência  de cidadania, ética e vontade firme  de governantes operosos   e honestos que tanta  falta os fazem na condução do país.
    Para o problema dos marginais dos morros, vejo como súmula  de enfrentar  o mal, a   sugestão dada por uma   brilhante  antropóloga   brasileira sobre  temas de violência, que é a professora da UERJ, Alba Zaluar. Ela   é autora de uma  obra densa de esclarecimentos  sobre  a violência, A máquina e a revolta (São Paulo: Editora Brasiliense, 1985), originalmente  uma Tese de Doutorado na área de antropologia defendida  na Universidade de São Paulo (USP).
   Daquela obra tenho gratas  recordações  do tempo  que a consultei na preparação de minha Tese de Doutorado em literatura brasileira,  sobretudo no entendimento  dos conceitos antropológicos do malandro e  do bandido, que muito  me serviram, entre outros autores,  para fundamentarem minhas análises sobre o tema nuclear   da  minha pesquisa da figura do malandro no conto de João Antônio ( 1937-1996).      
  Em  percuciente artigo publicado no jornal O Globo, “Funcionalidade criminosa” (10/03/2018), ela afirma : “Sem resolver a questão penitenciária nem desmantelar a companhia do crime organizado que se expande por todo o Brasil, não há solução para a violência no  país.” A meu ver,  aí está a raiz da violência que, em artigo neste Blog, considerei  o problema  nº 1 do país. Sem desbaratar  frontalmente  a bandidagem que se instalou  no país, sem ouvir  pesquisadores   com larga experiência e talento,  não surtirá  efeito  positivo  a intervenção do general  Braga Netto.   
    A questão já está equacionada  pela antropóloga citada. O que, daqui para a frente  se deve fazer  é pôr em ação a logística   militar  para desmantelar   as organizações  criminosas com a lei e com a inteligência,  punindo  culpados sem causar  males a  inocentes e pobres, sem balas perdidas nem  torturas. 
   Basta contar com a inteligência e as forças militares federais, limpar a polícia  dos maus elementos  de suas corporações, tantos  de patentes  superiores quanto inferiores. Retirando  criteriosamente  os impuros,  é possível colher alguns  frutos  dessa intervenção  das Forças Armadas.      
    Oxalá elas consigam. Afinal,  o nome  e a imagem do general e de seus assessores estão em jogo.  Hão de vencer essa batalha  contra  o banditismo. 
    A outra batalha,  a dos  marginais de colarinhos brancos, a dos  políticos corruptos e dos empresários  escroques,  há de ser  travada  com a punição deles pelos ditames da Lei expressa e interpretada  com ética e competência jurídica. Que as investigações da Polícia Federal, o acompanhamento  pari passu   do Ministério  Público  e  as decisões dos membros do  Supremo Tribunal Federal   sejam firmes, éticas   e patrióticas. Assim espero.   
     

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