terça-feira, 19 de dezembro de 2017

UM BRASIL E UM NATAL DE 2017 PARA CADA UM



                                                                      Cunha e Silva Filho



            Assim como, leitor,  já se afirmou  uma vez  que  não há Brasil mas brasis (essa foi a impressão que meu  pai teve quando  foi,  em 1968, participar de um Congresso  de Jornalista em  Porto Alegre, viagem  que  lhe rendeu um artigo  “Dois” Brasis”) tomando como  comparação a divisão entre Sul e Norte, podemos dizer que o Natal se divide em natais. O que quero  significar  com  esta divisão? Simplesmente que o nosso país,  continental como é,  oferece de tudo, todavia de forma errada e caótica: minoria  extremamente  rica e detentora da  riqueza  financeira  e outra parte subdividida  (“dividir para reinar”) em classes médias difusas. pobreza e miseráveis, tão miseráveis que nem tantos anos de Bolsa Família conseguiram  resgatá-los dessa  desumana posição.  Em país  socialmente injusto  tal qual o nosso, é de  se esperar   tamanha  diversidade  negativa   de bem-estar  de sua  população espalhada  em seu território.
         Daí o sentido principal  deste artigo: o Natal múltiplo, cujos extremos mostram   a riqueza dos poderosos cada vez  mais concentradores e gananciosos a todo custo   do bolo econômico e o Natal dos despossuídos, da fome, da ausência total  em  todos os setores da atividade humana: moradia, saúde, salário,  alimento, direitos  sociais, lazer, em suma,  um quadro  de tragédia  humana coexistindo no mesmo  espaço geográfico  da Federação. Realmente,  não dá pra  elogiar  os tempos de Natal, sobretudo dos últimos anos  e,  em especial, dos – vamos usar um termo em moda para referir-se ao  tal governo Temer -  “desmandos” do PMDB provocados  e projetados ao futuro  por essa sigla  que causa  calafrios nos brasileiros   conscientes da situação  política de agora.
         Como daria certo um  partido, no início  da ditadura,  foi  criado  para  servir  de oposição  seletiva  ao regime  de arbítrio? Como se confiar numa  partido  que  se compõe de um   quadro  ministerial   tão insignificante    em competência e em valores humanos e intelectuais ( com exceção do ministro da Fazenda)?  Como se confiar  nas intenções,  promessas e ações num governo  federal  em que alguns  membros do  poder  estão sendo investigados  pela  Lava-Jato?
        Se o que o atual governo federal  alega   que encontraram  o país arruinado  nas finanças e  em outros  setores e, para  solucionar  tão gravíssimos  problemas,  vai  cobrar do bolso já por si  esvaziado do brasileiro  os milhões e milhões de falcatruas e  roubalheiras  dos assaltos  ao Erário Público, não seria  tal  atitude  injusta e perversa? Que culpa tem o brasileiro  de que  governantes  mancomunados com  o alto empresariado  tenha  realizado a maior  esbórnia   de desvios  do dinheiro  do Estado  brasileiro? E mais: por que  penalizar   o nosso  povo, os funcionários  públicos  com essa história  não bem contada de  reformas   trabalhistas e sobretudo de reforma  previdenciária, invocando o instrumento  isonomia   de teto  de aposentados privados e públicos  quando se sabe que isso  é um projeto  descaradamente  injusto?
         Acreditaria nessa  paridade  de teto  máximo  igual para todos  se a aplicação dela incluísse tanto  os , digamos,  senadores,  deputados, juízes,  desembargadores,  presidente da República,  enfim, todos  os  que, hoje em dia,  usufruem  dos supersalários,  acúmulo de três ou quatro  aposentadorias e outras   vantagens  que  são, em muitos casos,  muito  maiores do que os já altos  salários que  percebe essa elite dos Três Poderes.  Se não fizerem  isso,   uma reforma  previdenciária  como a que foi adiada para fevereiro  seria um monstro  de injustiça  e ilegalidade  no tratamento    das aposentadorias.
    Obviamente,  não  quero  tampouco ser  contrário a uma melhoria  dos aposentadores da Previdência Social  que, por longos anos, têm sido  injusta  com os trabalhadores da iniciativa  privada. No entanto,  ao dar paridade de salários de aposentadoria  aos funcionários  públicos que têm, na maioria de seus quadros,   pessoas   de alta competência e   dedicação  às suas funções, sejam  equiparados   indiscriminadamente   com  outros funcionários  do setor  privado.
     Por outro lado,  se houvesse  mesmo  isonomia para todos, do alto da pirâmide à base da pirâmide, eu poderia  acreditar  em justiça  social  no país. Esses argumentos  em defesa da isonomia  são tão  insustentáveis até para um leigo que  mais me parecem   estar o governo   elaborando num  mundo  surrealista, sob o comando  de um presidente  que, sem ter  sido eleito,  deu na veneta de resolver  os magnos problemas   do Brasil  à custa dos  enormes sacrifícios  da sociedade.
    Se com  esse tipo de reforma previdenciária   os donos do poder de plantão estão pensando  em artifícios e estratégias  a fim de  angariar  vitória  nas eleições do PMDB e seus  asseclas e aliados em 2018,  o que  pretendem  não  vingará  mesmo, uma vez que o povo  não está mais assim  tão  imbecil  politicamente  e não dará  respaldo a um partido   que se caracterizou  por escândalos  e desgovernos ao longa da história política  brasileira.  
    Há algo que sempre me intrigou no cenário  nacional: os analistas  econômicos, com a frieza  que lhes é peculiar, de braços dados com   a mídia em geral tendenciosa à direita,  se comportam como uma imenso séquito neoliberal  de cooptação   da vida econômica  e não veem  que,  no miúdo,  o quadro  não é tão panglossiano assim como estamos vivendo  no país. Que o digam os menos  favorecidos e as donas de casa. Se alegam  que  está havendo  retomada do crescimento,  esse fato  não se pode  negar naturalmente,  Entretanto,   os analistas  tendem a ocultar  o lado  que não lhes interessa   revelar, o qual  inclui  a continuidade  de aumento  dos preços, dos alimentos,   dos remédios,   dos planos de saúde,  dos  aluguéis,  dos condomínios, tarifas públicas, entre outros itens  que poderia   citar.
    Só lembro a esses comentadores  da economia brasileira que  o país  não vai bem se apenas  crescem suas exportações, ou diminui  sua recessão.  Um pais pode ser  rico  - veja os EUA – e,  no entanto,   ter grandes  problemas  sociais, pobreza,  violência,  sistema de saúde pública  precário, ensino caro em nível superior. Um país só é feliz  se  a sua riqueza for melhor  distribuída (e não é o caso  brasileiro) se a educação, saúde,  transportes,  segurança forem aprimoradas, se seu  povo  for civilizado,  sem preconceitos  de  qualquer natureza,  unido, solidário e, last but  not the least,  se  seus governantes forem probos e   benquistos  pela sociedade.
    Aproveito este espaço para desejar, do fundo da minh’alma, um Natal  humanizado, com paz,  saúde, alegria e bem-estar geral. Feliz Natal em 2017, leitor.⁢
     







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