quarta-feira, 20 de julho de 2016

O CÉU ESTÁ CARREGADO:NUVENS NEGRAS POR TODA A PARTE



                                                          Cunha e Silva Filho


          Se passarmos, ainda  que por  uns três dias,  ocupado com uma tarefa  que exige nossa concentração,  perdemos a  noção  do encadeamento  da novela lúgubre, cujos capítulos são ininterruptos e, além disso,  nos mergulham   na realidade áspera  quotidiana. A novela lúgubre a que me refiro  metaforicamente  representaria  a imagem humana, social,  política, econômica e espiritual da contemporaneidade, quer a doméstica, quer a mundial. 
         É assim que me senti por um período em que só pensava no lançamento do meu  livro Apenas memórias, ocorrido numa tarde-noite do sábado  passado. Só o autor avalia  o quanto  fica tenso com o que vai lançar, se a obra vai agradar,  se a edição saiu  como a gente queria, se, no dia  do evento viriam os convidados a quem  enviamos convites individualmente, se a divulgação  foi correta e chegou  às pessoas que  o autor  queria presentes, se outras convidadas não vieram nem se desculparam ou mesmo não puderem  por motivos  vários  que só Deus sabe   
        Alguém me contou  que  um  autor havia convidado  vários   conhecidos, colegas  e supostos amigos para um lançamento  de um  livro dele e,  no dia  marcado,  só compareceu um convidado. Pobre autor! Estranhamente uma semana depois, esse autor, pessoa até bem  respeitada  na sua área de estudos, faleceu de repente.Até parece uma história real  saída da ficção de um Machado de Assis (1839-1908). Porém, o que tem a ver  essas digressões com  o assunto  da crônica?  Peço desculpas ao leitor e, agora,   vou   me ocupar  do tema  ou temas que lhes  trago à reflexão.
        A semana passada, quanto a acontecimentos  indesejáveis, foi  muito  fecunda  do ponto-de-vista  de péssimas notícias, a começar da tragédia de Nice,  cidade francesa que,  no dia quatorze deste mês,    comemorava  a Tomada da Bastilha. A memória me leva, agora, quase involuntariamente para aquele  sintagma de um  breve texto do   livro de Marcel Debrot, Le français au gymnase, adotado pelo meu pai  no tempo em que fui  seu aluno de francês em Teresina: “La prise de la Bastille.”  Existem  palavras e  expressões que jamais  esquecemos. Estão sempre vindo e voltando no  constante stream of conscience como nas narrativas  introspectivas da ficção moderna.De resto, essa expressão foi cunhada pelo escritor americano  Wiliam   James (1842-1910).
       Ora,  um dia festivo,  o 14 de julho, homenageia a queda do reinado do fraco  Luís XVI e marca o início da Revolução  Francesa  e da formação da Assembleia Nacional, em 5 de maio de 1789, que retirou  as regalias  dos tempos feudais.   Os deboches dos  brioches da Maria Antonieta contra a população  miserável só lhe valerão, pouco depois,  a prisão e a guilhotina junto com Luís XVI.    
   Antes, o seu antecessor, Luís XV governou a França  com  a imoralidade, esbanjamento e o desprezo  pelas populações  desassistidas e com a complacência dos  membros da Igreja. Ao povo, antes  amesquinhado  pelo desmandos  reinóis,   foi  concedida a liberdade, um  dos apanágios da  Revolução  Francesa, ao lado da fraternidade e da  igualdade. A lição da França  ainda é um acontecimento  vivo e atual, um  alerta aos tiranos, civis ou militares.   
     Nunca se pensa que, em dia de celebração da  liberdade de um povo,  se vá deparar com uma tragédia dessa magnitude. O presidente da França, socialista, não me parece estar  agindo com a firmeza  de um estadista. Parece mais se preocupar  só com  o corte de seus ralos  cabelos.
     Alegar-se que  o país está mobilizado   contra o terrorismo  não é suficiente, pois, na tragédia de Nice, havia  policiamento e, de  repente,  um caminhão,  passa na rua   apinhada  de  pessoas alegres  com  o feriado e atropela  desordenadamente quem ali estava  valorizando  os sentimentos  da liberdade    de um povo. Como não desconfiar de um caminhão  acelerado? Que policiamento   de inteligência  é esse incapaz de  sustar  o veículo pesado?
    O fato é que as pessoas,  e aqui  incluo  a segurança,  nunca pensam  que tudo pode acontecer de onde  menos se espera. Que as coisas  só acontecem em outro  lugar. Por que não isolaram  os limites da área abrangida   pela  população  festiva?        
    Uma tragédia é  um sinal de alerta máximo para a situação  das cidades  que pertencem ao Ocidente.Crime hediondo em massa, deixando  dezenas de  mortos e inúmeros  feridos  gravemente. Não é mais possível que atos abomináveis como estes  se mantenham em cidades  importantes  da Europa acossadas pelo   terrorismo   de fanáticos e sanguinários, O Estado Islâmico tem que parar com  tanta  atrocidade. No rol coletivo das vítimas fatais até brasileiros se encontravam. Que culpa têm os franceses  comuns,  os turistas, crianças de serem  alvos de criminosos internacionais ainda não debelados  pelas potências  mais  fortes do mundo, tendo,  à frente,  os EUA?
    Ora,  é até  ingenuidade ou  mesmo falta   de sentimento  das autoridades  afirmarem que  ações terroristas desses  proporções  são inevitáveis. Isso  é confissão  de impotência  e de fraqueza, de  falta de pulso  de nossos governos diante  dos massacres  que  rondam  pela Europa e outras partes,  inclusive,  da Ásia,  África e América. Não é razoável – longe disso – que autoridades venham a público, em tom  de  quase aceitação    desse  estado de coisas manchado  por tanto sangue humano, com declarações  que até mesmo  nos tornam mais  irritados.
  Não é tempo de os governantes  de países  ocidentais deixarem de ser apáticos diante de constantes ataques terroristas insurgentes contra modos de vida diferentes deles?   Nem pode nunca ser  banalizada a ideia de que exemplos de atentados  assim  sejam  imprevisíveis. Não,  eles estão errados em suas observações  diante  da seriedade e da tragédia que  se  abate sobre o ser humano  em nosso dias. As pessoas estão morrendo  gratuitamente nas ruas,  em lugares  fechados,  em   lugares de diversão,  a céu aberto, nos metrôs,  nos lugares  mais diversos e nada decisivo  acontece  da parte das autoridades  mundiais  a fim de  debelar  ou  diminuir  consideravelmente  esses crimes   infernais.
   Não, há algo errado por parte dos organismos  internacionais de segurança dos povos. No meu juízo,  órgãos  como a ONU,  e sobretudo  seu Conselho de Segurança,  estão  virando  elefantes brancos  diante  da mortandade  de inocentes  em tantos  países. Por conseguinte,  é precioso  fazer-se algo  incomum   e com  o pensamento   de salvar  vidas  futuras, Não se pode mais  viver  na Terra com  o medo, a insegurança,  a iminência de uma a tragédia, de um genocídio.
    Carrascos de seres humanos,  bárbaros   travestidos  de humanos,   assassinos  desequilibrados  e bestas selvagens   não podem  indefinidamente  pôr o mundo em polvorosa,  como se  todos nós fossemos  protagonistas    de um  filme  de horror e  morticínio em larga   escala, Não transforme  o mundo  em filmes de  terror,   os quais não são exemplos  para nenhum  país e até se devia  repensar  na  possibilidades de  limitar  as asas  da imaginação  de alguns  cineastas  que,  só por  motivos  comerciais,  lançam  no mercado  do cinema  esse lixo  de  filmes  onde a tônica do  enredo  é a destruição do próximo. 
    Tal fato  só serve para  incendiar  mentes  doentias  que  confundem  cinema (ficção) com a realidade. Esse lixo que só patenteia  o horror e a destruição  entre os seres humanos na tela de nada  serve  para a mudança de mentalidades Antes só fomentam,  nas mentes -   repito  -,  de  indivíduos  despreparados   culturalmente, ideias  internalizando   a naturalidade  de cenas  horripilantes e de destruição   do ser humano.
     As autoridade mundiais  que ainda  tenham  um mínimo de  respeito  à humanidade  não podem ficar de braços cruzados,  só  fazendo declarações  inócuas   que em nada   servirão  para   solucionar  a ignomínia do terrorismo  internacional que está vencendo essa batalha  do Mal contra o Bem.O maniqueísmo aqui, no tocante ao terrorismo,    tem cabimento.
    Por outro lado,  os países que combatem  o terrorismo  ou se ocultam   por  razões  inconfessáveis  para  ganhar  terreno  no campo  econômico  de países mais vulneráveis devem   meditar nos seus    modos  igualmente   nefandos  de  combater  os inimigos  e ao mesmo  tempo  ceifando   inocentes. Aludo a ataques  contra inimigos  empregando os chamados drones  que, muitas vezes,  atingem  seus alvos pretendidos mas igualmente  cometem atrocidades contra  populações civis que nada têm a ver com  assassinos terroristas. O certo seriam tropas  deslocadas  para enfrentamento  das forças  adversárias  Nesta particularidade,  por que não  acertarem  as diferenças com os russos que  protegem  outro  tipo de terrorismo  cometido  pelo  ditador  Bashar al-Assad, provocador  de uma guerra civil que já dura  uns cinco anos  com  milhares  de mortos?
   Cumpre  urgentemente  encontrarem-se meios  sólidos e intenções  diplomáticas  efetivas  que  livrem, enquanto  se pode,  a humanidade  de  sucessivos   atos de terrorismo,  cujos prejuízos  de vida e econômicos  são incalculáveis, notadamente  no   campo do turismo   internacional.
    Afirmações  vazias   da parte de governantes  ou   de  funcionários do alto escalão de países adiantados   vitimados  pelo  terrorismo  avassalador – repito -,  estão  longe de constituírem medidas de dissuasão contra criminosos  e cortadores de cabeças   humanas em pleno terceiro  milênio. Isso envergonha a todos nós  que ainda temos algum resquício de amor  ao próximo e a sensibilidade  de prantearmos  os inocentes  barbarizados em Nice e em outras  partes  do mundo. Da mesma sorte,  votos de pesares meramente  protocolares  de nossas autoridades  mundiais,  com outras formalidades  de praxe  e fisionomias  entristecidas pouco ou nada  valerão diante  dos  horrores  e perversidades  do terrorismo tentacular.





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