domingo, 6 de março de 2016

Por que o lulopetismo está ruindo?




                                             Cunha e Silva Filho



        Se fizermos uma retrospectiva da história do petismo no país, com certeza teríamos que reconhecer duas etapas sintomaticamente diferentes e contraditórias  1) a ascensão do Lula com o sucesso de um governo  que se propôs  reduzir o número gigantesco dos excluídos sociais - pedra de toque do programa ideológico do Partido dos Trabalhadores; 2) a queda paulatina, por razões de imoralidade pública, que o próprio  petismo   desencadeou com uma série de  escândalos  contabilizados pelo partido, cuja liderança esteve sempre enfeixada nas mãos do líder  de estofo  populista  e salvacionista, esperança e admiração que passaram a alimentar  a mentalidade  das classes desprotegidas de norte a sul no Brasil.
           Essa posição   privilegiada  em que  se manteve no primeiro e até no segundo mandato rendeu-lhe dividendos enormes a ponto de ser chamado por líderes  internacionais de um presidente  que conseguiu  tirar os brasileiros da miséria e de mesmo  realizar uma mobilidade social  pela qual as classe mais pobres   ascendessem  a níveis de classe médias.
      Sua liderança  no exterior  subiu às alturas, sendo até  recebido pela rainha  Elisabeth  II  da Inglaterra e de ter se tornado, em universidades do país e bem assim  em mais de uma universidade no exterior, doutor honoris causa. Sociólogos, historiadores   europeus  não perderam  tempo de reconhecer   méritos  incontestes no líder popular  brasileiro. O presidente Obama o chamou, não sei se por sutil ironia,  de “o cara.” Um intelectual  brasileiro  sobre ele escreveu  um livro. Sua carreira política vitoriosa  o transformou em filme.
      Lula  era a garantia  de um  governante  respeitado sobretudo pela esquerda, quando ele mesmo  nunca foi  esquerdista (e ele próprio o confessou) nem tampouco  nunca  leu Marx. Entre o professorado de universidades públicas  granjeou fama e poucos são  os docentes  universitários até hoje que não lhe rendem  tributo e lhe  reconhecem  a  importância na história  política brasileira. O motivo dessa preferência me escapa ao entendimento.
       Carismático, - alguns cientistas políticos  não gostam desse qualificativo -,  bom orador das massas,   inteligente, astuto, conhecedor privilegiado dos bastidores do sindicalismo nacional, ganhou experiência como parlamentar  Juntou todo esse cabedal  prático  e terminou  vencendo uma eleição (2002) para o  cargo mais alto da Nação, a Presidência da República, passando a ser o 35º presidente do país. 
      Sua estrela foi  crescendo. Ao atingir seu  ponto mais alto, no segundo mandato, algo estava a caminho  na contramão  do seu estrelismo. O partido, posto que ainda fortalecido e com boa popularidade junto às pesquisas de opinião, ainda  lhe permitia boa  margem de credibilidade nas camadas mais  populares da sociedade, sobretudo no Nordeste,  onde sempre obtinha   altíssimo ativo nas urnas.
      Contudo,  algo novo se acrescentou a uma biografia de causar inveja a todos os presidentes brasileiros, conforme   se pode constatar numa simples pesquisa do seu currículo e de bibliografia  sobre Lula. Esse novo  acontecimento  foi o que se chamou escândalo do “Mensalão,” um tsunami que atingiu frontalmente   membros  do alto escalão do presidente Lula,  a começar do seu chefe da Casa Civil, José Dirceu,  acusado  de práticas ilícitas de natureza financeira junto com outros membros do governo. De resto,  o  primeiro tiro contra o governo Lula foram  as denúncias  do deputado do PTB, Roberto Jefferson, sobre um  esquema de propinas nos Correios. Entretanto,  Lula saiu ileso desse incidente.
     Ao escândalo do Mensalão, o país se defrontou com outro não menos  grave e danoso  às finanças do país, o Petrolão,   no qual estavam  implicados  altos funcionários da Petrobrás  acusados de desvios  vultosos de dinheiro  da Estatal  sob formas  de propinas, quer dizer, um conluio criminoso  entre  empresários  e governo federal.
      Contudo,  foi com a chamada Operação Lava Jato, instrumentalizada numa série de etapas de investigações do Ministério Público, tendo à frente a sua condução  capitaneada pelo  juiz Sergio Moro que a situação  do  ex-presidente Lula se complicou de vez que   evidências cada vez mais  comprometedoras apontavam em direção ao ele e a membros de sua família como envolvidos em práticas de lavagem de dinheiro e em outros indícios   de supostas práticas   ilícitas  advindas  de dinheiro da Petrobrás.
    A Operação Lava Jato, ademais, segundo se tem  noticiado nas diversas mídias,  tem alavancado   um conjunto de denúncias  de desvios do dinheiro  público provenientes   de transações contratuais  fraudulentas  regadas  a propinas   entre o governo  federal  e  grandes empresas brasileiras, como a Oderbrecht, a AOL,   a Camargo Correa, entre outras, fatos esses ocorridos desde os mandatos de Lula e continuados  no governo Dilma.
    As diligências   levadas a cabo pela Polícia Federal têm  sido de extraordinária importância na condução  das etapas  da Operação Lava Jato culminando com  a mais recente,  denominada de Aletheia, colocando a situação  do ex-presidente Lula numa saia justa   ao ponto de ter sido conduzido coercitivamente   a depor numa  delegacia da Polícia Federal.
     Após  ter dado seu depoimento, o ex-presidente,  em fala à imprensa,  mostrou-se profundamente  enfraquecido,  dando claros  sinais de apavoramento e de alguém  que foi  colhido em flagrante delito. Sua fala não convenceu a quem o ouviu. A voz  estava frágil,  sua fisionomia abalada,  dir-se-ia até que o medo nele se plantou  à flor da  pele. Talvez esse seja o início de seu  ocaso  político, dele não restando  mais  nenhuma altivez diante de tantos   denúncias e delações de empresários, por último, das declarações do senador Delcídio  do Amaral, ex-líder do governo Dilma, que seguramente  o   deixarão  traumatizado  para sempre. O véu da fantasia  lhe foi retirado pela força da Lei. Dificilmente, creio, depois dessa experiência constrangedora, que   o populista  Lula terá mais  algum  gesto  de maior    destemor ante  o vexame de ser levado  a prestar  esclarecimentos  sobre falcatruas  gravíssimas que lhe pesam sobre os ombros.

   Veio até tarde  - enfatizo -   esse passo da  Justiça sobre denúncias de  malversações  que há tanto tempo vêm sendo  feitas por  grande jornalistas e pela imprensa em geral. Desta vez, não pôde escapar do interrogatório ao  qual só respondeu  com evasivas sobre desonestidade  praticadas durante seus mandatos ao afirmar que nada sabia dos escabrosos  males vindos a público e  de seguidas  desídias financeiras  já investigadas   há tanto tempo. O mito do grande  líder dos pobres  é uma pálida e melancólica página virada da História da política  brasileira dos últimos  tempos. O outra lado de prestação de contas ao Ministério Público  cabe ao periclitante  destino  da  governante atual -  uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de Dona Dilma..

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