sexta-feira, 11 de março de 2016

O Elogio dos Blogs




                                     Cunha e Silva Filho




   Conversando  com a minha   esposa, ela,  de repente,  me  soltou  esta afirmação:“Você, Francisco, nunca imaginou que, um dia,  seria um viciado em computador.” Você, algum dia,  imaginaria  que haveria esse  notável e utilíssimo  meio de se comunicação com o Brasil,  o mundo, os continentes  e que muita gente  ficaria lendo, ainda que uma só vez,  um texto seu?” Não lhe respondi, apenas olhei para ela com um sorriso.É claro que   ela se referia aos blogs.
     A primeira vez que me deparei com o termo blog foi num texto em inglês falando  justamente dessa forma  de  comunicação  virtual. De início,  nada entendi o que fosse  um blog, para que serviria. O texto falava sobre a aplicabilidade do blog e, para um leigo como eu em assuntos de usos da mídia virtual, tudo me parecia confuso. Esse texto  teria que trabalhar numa das minhas alas de inglês na seção chamada Prevest. Do Colégio Militar do Rio de Janeiro. O Prevest é uma seção destinada a preparar os alunos  do ensino médio aos vestibulares no país. Se não incorro em erro, ela se subdividia em  turmas de humanas,  biológicas   e tecnológicas. Como professor de língua estrangeira, me reservavam as turmas  de humanas.
    Confesso que o texto me era algo  problemático para  discutir com os alunos  porque não atinava ainda com  a natureza real  do que fosse um  blog. Inclusive, serei franco, achava que blogueiro era para  alguém desocupado  que  usava esse meio digital para escrever  sobre  si mesmo sem nenhuma preocupação de maior  importância.Quer  dizer,  o blog, conforme definia o texto em inglês,   pelo menos para mim,  só foi bem entendido quando resolvi   ter o meu próprio blog batizado de “As ideias no tempo,”  através dele venho  escrevendo meus textos desde 2009.O título foi tirado do livro de título homônimo As ideias no tempo, publicado,  pela Gráfica do Senado em convênio com a Academia Piauiense de Letras (APL), em 2008.
    Não sei quem  primeiro  teve a ideias de chamar   de blog a esse meio de comunicação, hoje  a forma mais  democrática que  tenho para transmitir minha   ideias  sobre o que penso  da vida,  dos homens,  da cultura,  do mundo. Sinto-me à vontade nesse grandioso  fórum  de debates,  de dialogo, ainda que por vezes silencioso, com o me pais e com o mundo. Neste sentido, o meu blog é o meu exercício imediato de me comunicar com os outros, independente  das fronteiras   continentais.
      Mais do que o jornal, a  revista, o livro, o blog para mim  é uma espécie de cátedra, cujo titular  tem, sim,  compromissos  éticos com o público, ao  exercer sua atividade escrita  sem as aprovações,  os interditos,  as chancelas,  as avaliações  que outros meios de  transmissão de notícias e de conhecimentos  impõem ,  por vezes,  injustamente  a um escritor. Meu único  compromisso, na  realidade,  é com  o saber, a opinião livre das peias  da  censura  e dos critérios  ideológicos,  comerciais,  de grupos   culturais ou acadêmicos, mito presos a  os seus regulamentos de toda a sorte. 
       O meu blog é uma ágora pelo qual perpassam minhas ideias, minhas idiossincrasia, meus  defeitos, minhas qualidades e minhas limitações. Por isso, assumo as responsabilidades que me cabem  dentro  do conceito mais amplo que  tenho sobre liberdade de expressão e de visões  culturais. Até agora,  nunca me senti cerceado quanto ao que  tenho  publicado nesses últimos  quase sete anos  na condição de blogueiro – termo que,  intimamente não me agrada em razão de subjetivamente associá-lo a algo que pertencesse a um  categoria  inferior  de usuários  da escrita  virtual. Isso, contudo,  é um preconceito meu arraigado por razões que não sei  explicar.
      De uma coisa tenho certeza, tudo que publico  no me blog  é a expressão mais clara do meu pensamento  intelectual e, por ter o blog essa característica  de liberdade,  de autonomia,  de responsabilidade ética, é que  me fortalece a vontade de dar continuidade a esse locus  do qual  tenho colhido algumas alegrias  conquanto não sejam muitas.
    No meu blog discuto questões de amplo espectro, algumas  muito polêmicas, outras  mais amenas,  outras  mais  dirigidas  a um  público mais restrito. O que me leva a essa continuidade é a minha vontade de me  comunicar –reitero – com as pessoas, o meu país e o mundo, incluindo aqui  a possibilidade de opiniões contrárias  às minhas.
   O papel de um  escritor é ser verdadeiro consigo mesmo. Não é a de um mistificador, mas de um  homem/mulher que  tem que dar  satisfação ao que eticamente julga ser construtivo  e  útil à coletividade. Pode mudar de opinião? Pode, mas essa redefinição de seus princípios só será  feita por amor à verdade, à justiça e à cultura no sentido mais lato possível. Dessa postura moral não me afastarei um milímetro. 
     A condição do escritor é de se expor, de ter coragem e de ter “personalidade”  -   a palavra “mágica,” segundo a definição de Cassiano Nunes (1921-2007),  um  eminente   ensaísta,  crítico  literário, poeta  e grande conferencista, ex-professor de literatura da Universidade de Brasília, com quem tive o prazer de trocar uma brevíssima e proveitosa ( para mim) correspondência.


2 comentários:

  1. Meu caro amigo,
    Noviço na função, tenho muito me guiado pelos textos publicados no seu blog, pelas suas ideias eivadas de lucidez e comportamento ético, e pela clareza cristalina que emprega na condução e argumentação dos textos que publica aqui. Como você, também não me sinto confortável com o pejorativo título de blogueiro, mas vou seguindo adiante, pois não há maior alegria do que a de saber-se lido por alguém que não conhece, nunca viu, e que jamais conhecerá.O contato com leitores de países no qual nunca estive, também é motivo suficiente para continuarmos na lida. Almejo continuar tendo a sorte de privar de um espaço cultural incentivador, estimulador, como é o "As Ideias no Tempo".

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  2. Meu caro amigo e escritor José Pedro Araújo:

    A sua gentileza, a sua bondade e espírito despojado de segundas intenções ou de vaidades me fazem um bem imenso. Sinto que o dever da escrita se me impunha desde a adolescência, no que fui, de resto, muito incentivado por meu pai, o intrépido jornalista e professor Cunha e Silva(1905-1990).
    Escrever para mim é uma forma de sobreviver às tempestades existenciais. É meu sopro de vida. Escrever para mim é ainda uma forma de procurar me unir a todas as vozes nacionais e internacionais que clamam por dignidade, paz, amor. Enfim, é uma forma de me sentir útil, ativo, de contribuir um pouco para abrir as consciências dos que ainda estão na escuridão da ignorância, dos preconceitos, do fanatismo nocivo, dos que esperam alcançar um país melhor, um mundo melhor.
    Muito lhe agradeço pela mensagem belíssima a mim dirigida.
    Obrigado mesmo.

    Cordial abraço do

    Cunha e Silva Filho



    )

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