sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Um hobby na vida de adulto




                                       Cunha e Silva Filho:


Mais de um vez  já  falei que tenho um hobby. Não o de  cuidar de um cãozinho  ou um gatinho  travessos, nem  de cuidar  de  jardim, de plantas, embora admire quem  faça isso, nem de colecionar  gibis da minha infância ou adolescência, nem de colecionar discos  de vinil, nem nada disso.
O meu hobby tem outro  objetivo, talvez até menos  valioso do ponto de vista  humano do que outros passatempos. O meu hobby é de outra natureza,  o de recuperar   livros meus da adolescência, já que da infância praticamente está tudo apagado da minha  memória, o que corrobora a atualidade,  em grande parte, dessa  saudável  e ainda  oportuna  obra, Idade,  sexo e tempo (1938), do pensador católico  Alceu Amoroso Lima( 1893-1983) o Tristão de Athayde, pseudônimo desse  gigante da crítica do Modernismo  brasileiro,   escritor de  uma obra imensa e   inestimável em vários campos  da inteligência: história literária,  crítica literária,  economia, sociologia,  direito, psicologia,   filosofia, religião, política,  teoria literária. Diz Tristão de Athayde reportando-se à infância: [...] “A infância é a idade sem memória, em que as impressões são tanto mais violentas quanto mais efêmeras” (op, cit., p. 52-53).
Daí que dos livros meus da infância bem tenra, diria dos cinco aos oito anos, aproximadamente,  já não consigo  lembrar  seus títulos. Daí também, por razões de aproximação da fase de vida seguinte,  a adolescência,  o motivo de tentar  recuperá-los no presente.
Sou um pouco avesso aos exageros estatísticos. Por isso mesmo, não sei ao todo quantos  livros foram, até agora,  recuperados. Uma  parte significativa  consegui encontrar no sebo virtual, o melhor meio agora de  conseguir alguns desses milagres graças à Internet, em edições diferentes ou até mais antigas. O importante foi que  vieram   compor o acervo  da minha biblioteca–hobby, que fica à parte dos livros mais  novos ou novíssimos.
Tem um desse  livro ainda não encontrados que perdi numa confusão que houve num ônibus que tomei em frente do Palácio do Itamaraty.. Houve uma briga entre passageiros e, com receio  que sobrasse  alguma coisa para mim,  desci do veículo com uma sacola de livros que virou no chão. Apanhei rapidamente alguns.  Coloquei-os de volta na sacola. Dois ou três  possivelmente,  não vi. Era noite.  Ao chegar em casa no Flamengo, onde morei por pouco tempo, verifiquei que  um  deles era um livrinho de título Expressões idiomáticas da língua inglesa, da Melhoramentos. Livrinho  útil,  de um excelente autor didático de inglês e francês, o Neif Antonio Alem. Há anos venho tentando  achá-lo nos sebos  do Rio e nos sebos virtuais. Debalde o encontrei até hoje. Quem  souber de algum  exemplar dele que me queira  vender  ou  doar,  aqui estou  disposto  a recebê-lo de braços  abertos.
Outros livros  estou  procurando  encontrar:  a segundas e a terceira séries da La  gammaire par la langue, de J. de Matos Ibiapina, autor didático  famoso, entre outros, nos anos 1920, 1930 e 1940, para os estudos do francês e do inglês. Estou  procurando   três livros, um  de francês para o antigo ginásio de um autor ou autora   franceses; outro de um autor inglês  para   o curso colegial (científico, clássico) que oferece mais dificuldade de encontrar porque não sei me recordo do título e do autor ou autores. Só se por acaso vir o título,poderia  identificá-lo;  outro também de um autor  francês para o curso colegial (científico ou clássico), nas mesmas condições de dificuldades do título e do autor ou autores.
Sei que o grosso  que procurava  já  consegui graças à Internet. Contudo,  não me dou por satisfeito. Quero localizar outros ou completar  volumes    em série. Está difícil  mas não  desistirei.  Ele fazem parte  do meu espólio  rememorativo. Alguém me pode perguntar: “Você vai relê-los?” Alguns,  talvez, sim, outros  vou  terminar de  ler,  pois os professores nunca  chegavam a  dar todas as  lições dos livros. Quantas vezes,  eu mesmo as completei  por  minha conta.
Agora, me lembro de um livro didático  de inglês,  que   ainda tenho comigo do tempo  da Rua  Arlindo Nogueira, em Teresina. É um velho exemplar que me foi  presenteado  por um quitandeiro, de nome Ditinho,  moço bom e amigo que o tinha nos seus guardados. Não sei se ele tinha sido  aluno de escola marista ou se o exemplar  lhe fora dado  por algum amigo. A sua quitanda era  perto de minha casa, do lado da Rua São Pedro.
É uma obra  da  excelente antiga coleção de inglês da F.T.D. Já,em décadas  passadas,  livros dessa coleção continham a chave de exercícios propostos, mas só para uso dos mestres. Caso caíssem nas mãos  de um estudante  sério e aplicado,  muito ajudariam  um estudante  independente como eu.  Por muito tempo, o uso de  livros com a chave  dos exercícios era criticado   por alguns  professores e educadores. Felizmente, esse não é o pensamento  atual da pedagogia. 
Agora os livros com chaves das soluções  dos exercícios  voltaram  a fazer parte  do volume, conforme vemos em editoras  de livros  para o ensino de línguas, como a Disal  e outras. Além desse instrumento  pedagógico, obras  dessa natureza  são também acompanhadas do   inestimável  auxílio de  CDs, reproduzindo,   com   a voz de falantes nativos,  os diálogos ou textos   desses livros. Até gramáticas e dicionários vêm  acompanhadas  de CDs. É uma revolução notável  na expansão do ensino  de línguas  pelo mundo.
 A Torre de Babel  está, aos poucos,  perdendo  sua condição de  sinônimo de confusão  entre  pessoas  falando  diferentes línguas.  O meu velho  exemplar daquele livro da F.T.D  está com páginas  faltando. É, pois, um livro mutilado. Vou envidar esforços  a fim de  encontrá-lo. É  questão  de tempo e de paciência. 
Outras obras que estou  no encalço de  recuperar, delas algumas  são de referência. São grandes dicionários de latim,  francês  e inglês. Que pena que as deixei em Teresina! Penso que foram   extraviadas  por negligência de minha família, conforme relato em detalhes na obra de memórias, que  lançarei  brevemente, Apenas Memórias. Não foi por culpa minha: eram de meu pai e eu não  podia  trazer para o Rio  visto que  eram  volumosas,  pesadas,  mas o valor,  imenso, é de dar inveja aos bookworms e bibliófílos.  Obras de Valdez, por exemplo, em edições portuguesas.

Outras obras, enfim,  que trouxe  já estão tão velhas que urge  tentar  encontrá-las em  edição  mais  recente ou mesmo antiga,  não importa,  contanto que estejam  inteiraças. Sou persistente  no que faço. Um dia,  direi a mim mesmo: encontrei tudo o que queria,  O hobby cumpriu  sua missão. Agora,  é cuidar  com amor de pai para que elas  não se extraviem,  não envelheçam  tanto e não saiam  da minha vida. Me lembro, agora,  de um enunciado  de Camilo Castelo Branco (1825-1890) que há pouco  postei na página do Facebook: só me vou  utilizar de apenas uma frase do enunciado, a primeira, do  notável romancista  português “Um livro aberto é um cérebro que fala.”

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