quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Triste realidade atual dos autores brasileiros: escritores em perigo!





                                            Cunha  e Silva Filho



       A Cultura Brasileira, no geral, está também  decadente e por muitas razões: a explosão das mídias, hoje cada vez mais se  diversificando, a fragmentação  das áreas outrora  prestigiadas como veículos  de informação e transmissão de conhecimento não pasteurizados. Tudo isso  soma ainda, para  o bem ou para o mal,  o excessivo “excesso” de  autores de áreas não diretamente ligadas, por exemplo, à literatura,  procurando  também  produzir  ficção, já que, em poesia,  seria difícil  manejar a pena,  quer dizer,  o teclado,  para  criar   poesia de alto valor  estético - seara do gênero  para o qual  há que se ter talento e  competência linguístico-literária.
     As pessoas que passaram a vida toda labutando  na preparação de competências  que lhes  facultariam  a possibilidade  de ingresso  na criação literária  se veem desprestigiadas diante  da concorrência  de bons e maus  escritores ou de escritores que  procuram  as fórmulas fáceis de atraírem  leitores  intelectualmente rasos   que  estarão prontos a  digerir  literatura de segunda ou terceira linha.
      Os resultados dessa queda vertiginosa  de  prestígio, de valorização e atenção aos  escritores de raça, de talento genuíno aí estão  se manifestando  de várias formas  no tecido    esgarçado  cultural: os bons suplementos  de literatura estão desaparecendo, minguando,  se reduzindo a duas ou três páginas,  retirando de circulação  críticos  de mérito e experientes e impedindo também que outros críticos menos visíveis ou mais jovens  possam  ter acesso  às colunas  literárias.  
      Restarão como  alternativa  frouxamente  viáveis os blogs, os sites  coletivos ou  individuais que, bem ou mal,  continuam  produzindo, dentro de suas possibilidades,  matéria crítica ou  de outros  áreas culturais.
      Razão tem o  escritor Rogel Samuel que, em recente crônica, de título “Nós, os quase extintos,” em sua coluna  “Crônica de Sempre”do site Entretextos, em tom   melancólico e de desabafo,  constata  a situação   de desapreço  com que são  tratados os escritores brasileiros  que ele chama com muito acerto  de “independentes” – seres, segundo ele,  “quase extintos da face da Terra.”
       Ora,  tal  situação  em que  colocam  os  escritores  brasileiros   é, no mínimo, um  golpe duro e insensato    do editorialismo de cunho elitista e xenófilo que  só tem olhos  para os estrangeiros, ainda que  muitos destes  estejam  bem aquém de autores nacionais que  estão   implorando para que lhe deem atenção  e façam  circular  comercialmente  seus livros. No entanto, a cultura  apátrida,   imediatista, pragmática, com sumista  hoje pouco está se lixando para um  bom autor pouco divulgado.
. O que para os editores  mais  conhecidos  vale é o produto   da venda, não a qualidade  dos autores nacionais em todos os gêneros. Só tem vez uns poucos que caíram  no gosto  discutível  de leitores   ávidos  por  autores  de cenários  escapistas,  ou   voltados  para  as cenas picantes de sexo barato,   crime e corrupção, tanto quanto os filmes importados, em geral americanos.
    Soube por um amigo que um jovem crítico  brasileiro escreveu  ultimamente  um artigo   discutiu num artigo  a questão da realidade  da crítica   literária  nacional  que, segundo ele, não anda bem. Não anda bem  porque, diz ele, está havendo  profundas mudanças  de comportamento  de leitores  e de novas  alternativas  midiáticas   que tendem a  pôr em segundo  plano o  exercício    da análise e da interpretação de obra.
    Quero crer que  a perda da aura da antiga militância crítica se deveu  ao incremento  da força que  instrumentos  de publicidade  têm disponíveis a fim de  dispensar   o papel  de orientação  e doutrinação   de  críticos de jornais  ou de rodapés, que ficaram célebres nos anos 1940, 1950, 1960. Esses críticos militantes   foram,  por seu turno, substituídos, fora dos jornais,  pelos críticos  universitários, i.e.,  professores  de literatura,  teóricos, que  passaram  a ter  um papel de   destaque  na avaliação  e pesquisa sobre autores antigos e novos.
     O espaço  privilegiado dos estudos  literários  passou  assim a ser dentro da universidade, e a   militância crítica, que praticamente  se extinguiu ,  cedeu terreno à “crítica universitária,”confinada daí em diante  às revistas especializadas, às monografias,  dissertações,   teses, aos anais de congressos nacionais ou  internacionais, ao universo acadêmico especializado. Ao crítico de jornal coube apenas  o papel  secundário  de resenhista, de noticiador  de lançamentos  de livros.Ou seja, o papel  do agenciamento  da crítica   se instalou   de vez no seio  dos curso s de letras e em todos os níveis  de adiantamento.
    O antigo  acompanhamento  dos lançamentos de livros que iam surgindo  sofreu, portanto,  um inflexão. Já não se podia  produzir  crítica literária como  antigamente  em razão de que os livros eram muitos e o crítico não teria tempo  suficiente para lê-los logo que  fossem  colocados às livrarias. O processo da leitura  de novos  autores na  universidade era  bem mais  lento,  demandava  maior  aprofundamento  e aparato  crítico,  bibliográfico,   rigor  ensaístico, formatação  acadêmica. O velho   crítico dos rodapés, não,  era rápido,  produzia suas análises   no calor  da emoção da leitura, quiçá de um só leitura, e o seu artigo ou crítica iam logo para folha dos jornais.   
       Veja-se o exemplo da Folha de São Paulo, com  o seu atual  caderno  Ilustríssima. Veja os seus colaboradores e as suas áreas de atuação cultural: cartunista, reportagem, jornalista, tradutor, professores de diversas áreas, diplomatas e escritores. Dificilmente, se encontram entre eles críticos  literários A discussão do temas nesse caderno  sofreu  um  expansão ou diversidade    cultural  de tal sorte que  a literatura  passou  a  se inscrever   sem aquele  antiga posição de   realce  entre outras áreas. Deixou de ser a primeira dama; hoje é apenas mais uma  área da inteligência brasileira.
        São muitíssimos os blogs ou sites  que cuidam de  produzir  crítica e ensaios, ou mesmo  poesia e  ficção. 
        Voltando  ao que  declarou o  ficcionista  Rogel Samuel, há uma trecho  de seu texto que resume  a deplorável  posição – não merecida, é claro – do escritor  brasileiro  independente, que não  pertence aos grupos  de  poder da produção  literária distribuída em nichos  inexpugnáveis  de editoras  elitistas que  escolhem e repudiam  quem  lhes parece  não  estar à altura de seus lançamentos:”Ontem entrei na Livraria Saraiva no Shopping Rio Sul e vi que os autores nacionais sumiram. Só nas estantes laterais, marginais.” O cronista  se interroga, machadianamente  cético, se  os escritores independentes e os escritores  em geral  são “seres em extinção” e ainda lamenta  que, na mídia televisiva, “num domingo de tarde,”  não havia  nenhuma  notícia sobre um  poeta,  uma homenagem a um  escritor, um “cronista.” Seria preciso  alongar mais  este artigo?





4 comentários:

  1. Estou sempre ao dispor do colega de lutas literárias e da aventura do espírito.

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  2. EU TAMBÉM ESTAVA NO MARACANÃ... COM MINHA FALECIDA MÃE... E APESAR DA CHUVA ELA QUIS IR...

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    1. Por causa de nossa contemporaneidade comum, em nossas vidas fatos coincidentes se revelam assim. É bom que assim seja, porque não consigo suportar a solidão pela solidão. Como Álvaro Lins, a solidão se presta mais quando estamos criando literatura, não importa o gênero da escrita. Lamento, por outro lado, ter despertado na sua subjetividade artística, recordações inesquecíveis carinhosamente guardadas no coração.

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