sábado, 19 de setembro de 2015

Vão-se as letras, segurem-se os números







                                    Cunha e Silva Filho



         É preocupante. Nesta semana, li no Facebook um artigo para ali  transposto, de José Castello  informando aos leitores(seus, principalmente)    de que  estava saindo  de sua  conhecida  coluna  no Prosa & Verso do Globo. Lamentável a notícia.
        Estão mesmo  matando  o jornalismo  impresso, assim como  fizeram com as  boas livrarias  do Rio de Janeiro que  se localizavam no centro, assim como  fizeram   tristemente  com os velhos sebos  cariocas   também  principalmente   no centro.
       Eu, que alcancei, dos anos   1964 para cá, tantos  bons  sebos, tantas grandes  livrarias (a da Vinci, a São José,  a Freitas  Bastos, a Camões,  a Martins Fontes, a Civilização Brasileira,   o sebo da São José, com o seu  conhecido  vendedor e, depois,  livreiro, o Germano,  que, hoje,   ainda  luta  com  a venda   de livros  antigos  de direito e algumas obras  raras num espaço limitado de três  salas  pequenas  na Rua  da Quitanda,  complementando  suas  vendas através das redes virtuais de sebos, fico entristecido com essa decadência  ocasionada  pelos novos tempos  devoradores do que  era bom  e  agradável a quem  aprecia  e ama os livros escolhidos e examinados  com as próprias mãos  nos recintos  silenciosos das velhas livrarias e sebos  cariocas.
        Volto,  porém, ao jornalismo   literário ou aos antigos e    densos suplementos  de jornais  do  Rio de Janeiro sobretudo  do Jornal  do Brasil, do Globo,  do Correio da  Manhã, do excelente  Jornal  de Letras dos irmãos  Condé.
     Agora,  o Caderno  Prosa & Verso perde sua autonomia  de  seção  especial  destinada a literatura, resenhas e crítica literária afora boas reportagens sobre autores e livros. Tudo,  nesse jornal,  passou a aglutinar-se sob a  rubrica Segundo Caderno e, nele  se incluem e notícias  de entretenimentos, rioshow, horóscopo,cartuns,  palavras cruzadas, eventos  culturais, diverso,  anúncios, notícias sobre  televisão,  celebridades e finalmente,  uma pequena parte de literatura, Prosa e Verso (sem necessariamente  aparecerem  poemas) e, por último,   a coluna, boa aliás, de  Arnaldo Bloch,  não me esquecendo de mencionar a coluna,  antes  escrita  por  José Miguel Wisnik, e, agora,  pelo  professor da UFRJ e filósofo Márcio Tavares D’Amaral,  que mal começou e  está me  agradando muito.
    Não quero falar de São Paulo nem de uns poucos estados que ainda  mantêm  algum  espaço  para a literatura. Entretanto, é visível a decadência  do jornalismo  literário brasileiro, dos já mencionados  grandes suplementos  literários.
    Por outro lado, os grandes jornais não dispensaram  os  Classificados,  cada vez maiores,  recheados  de compra e vendas. Vale a pena  mencionar  esse fato  para que se possa aquilatar  o apreço  hoje dos  donos  de  periódicos   por aquilo que lhes dá lucro certo e líquido. Que os  leitores  leiam  os classificados  e adquiram cultura  de números  e de exploração  de uns contra os outros – sinal dos tempos  do fetichismo  do vil metal,  do dinheiro  rápido e muito,  e  ávido. O tempora!  o mores!
   Veja,  leitor,   que as seções de política/politicagem continuam firmes. Afinal, quem   não aprecia  um  lucrinho,   um dinheiro  a mais no bolso sedento  de   moedas, em especial de  de dólares,  cifrões,  dividendos,  investimentos,   bolsas de valores,   alegria  dos sobe-desce das Bolsas determinado  por  forças  obscuras do mercado real e virtual?  Quem, ante  tudo isso,  vai pensar em  literatura,  em ler, queimar as pestanas, raciocinar,   se existem  outros   meios de viver sem   a leitura de sonhadores   com o céu  estrelado  e a lua dos  namorados?
  Quem, hoje,   vai ler  um grande  clássico,  seja brasileiro, seja  universal,  se cá na  reles Terra  existem  os torcedores  fanáticos,  os  botecos  de cachaças,  bares  e as “cervejinhas bem geladinhas   de fins-de-semana regadas às lindas ancas  e curvas morenas da  bela  Verão  de olhos faceiros e  andar   sensual?
     O que querem mais  os brasileiros além  dessas guloseimas e fetiches,  indiferentes à rapinagem    geral   e irrestrita que infestou  o Alvorada e o Congresso Nacional  conluiados com altas empreiteiras subornadas (e concluiadas)   a repassarem  propinas institucionalizadas por um  partido que,  segundo   o Ministro do Supremo  Tribunal Federal, Gilmar Mendes,  arrecadou  valores  surrupiados de lucros da Petrobrás em bilhões, os quais darão para   “vencer” eleições  mercadejadas no país até 2038 através de um   plano  diabólico   que, segundo ele,    foi engendrado  e  implantado  por uma ‘cleptocracia’  a fim de perenizar-se no poder, o que equivaleria a ser uma forma de “ditadura,” a longo prazo,  pelo voto  comprado.

     Felizmente,  ainda segundo  o  ministro,  a Lava Jato  conseguiu  desbaratar  esse  plano a tempo, restando, agora,   penalizar  com  toda a força  de Lei  os “white collars”  responsáveis diretos pelos rombos  do Erário Público. Ou seja,  prisão  inapelável para todos  eles, doa a quem doer.

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