terça-feira, 14 de abril de 2015

Minha formação (6)



                                            Cunha e Silva Filho


     O subúrbio carioca não é bonito  para quem  chega ao Rio de Janeiro pela  primeira vez. O único bairro  da ex-Central do Brasil, o Méier, é uma exceção. É um bairro  mais rico,  mais  elegante,  tem movimentos semelhantes a  bairros da Zona Sul, os mais  belos  do Rio. Posteriormente,  dedicarei um capítulo ao subúrbio carioca, parte do Rio de Janeiro tão bem retratada por escritores como  Lima Barreto e  Marques Rebelo, entre outros  ficcionistas.
     Tendo ido  morar com  o  tio Zequinha em Oswaldo Cruz,  segundo já mencionei,  achei  o  Rio feio,  uma cidade que  nada tinha a ver com  aquelas  cenas urbanas  das chanchadas divertidas de  Carlitos e Grande Otelo assistidas na Teresina   no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 no  Theatro ou Rex. Lindas  e excitantes  eram as cenas  filmadas  no Centro   da capital  carioca ou as  de outros   filmes  rodados  no  Rio em que  apareciam   partes  elegantes   da cidade situadas  na Zona Sul,  mostrando  Copacabana, a “Princesinha do Mar,” e a sua   esfuziante beleza, sobretudo  os calçadões  da  praia  bem cuidada e ainda  não poluída como nos tempos atuais,   com suas belas   mulheres  usando  maiôs.
       Só depois de alguns dias,  indo  ao Centro do Rio, fui mudando  de  opinião  com  referência  à cidade que esperava   encontrar. Só quando  vi  a Av. Presidente  Vargas,  e as Candelária  sempre à frente no meio da paisagem urbana, e sobretudo a  majestosa  Av. Rio Branco,  o palácio Monroe,  o magnífico  Theatro Municipal,  a Biblioteca  Nacional , Escola de Belas Artes, a Cinelândia e seus bares,  os  seus  cinemas (daí  Cinelândia), o prédio da Mesbla,   o Edifício Serrador e aqueles outros  arranha-céus, sendo  o mais  belo  de então  o Edifício Central  e tantos  outros  antigos  prédios de arquitetura  construído em diferentes estilos, clássico,  neoclássico, art-nouveau art décor, manuelino, barroco, moderno, pós-moderno.   Neste  prédio altíssimo, o Edifício Central  - um luxo pra  época, nos primeiros anos  de  inauguração, no qual tudo  funcionava bem -    pude  perceber que  tinha  me  equivocado  sobre  o que era o  Rio e o seu  justo   renome mundial de  grande e majestosa  cidade cercada de belezas e de paisagens   paradisíacas que  deixam os turistas de  queixo caído. Sim, o Rio é belo, era e  será sempre belo, e assim  continuará sendo  a despeito de tantas  prédios que foram  derrubados  com a construção do Metrô, como o  suntuoso  Palácio  Monroe, situado  quase ao final  da   Av. Rio Branco e com   outras modificações  que o Centro da cidade vem sofrendo  ao longo  do tempo.
      Me matriculei num curso pré-vestibular para medicina, Curso Arquimedes, situado  num prédio, hoje, já antigo  e maltratado,  o  Edifício Santos  Vale,  na Rua    Senador  Dantas.  As aulas eram à noite e por isso  chegava Oswaldo Cruz bem tarde mas sem medo dos assaltos  e da violência galopante de hoje Sempre que  passo  por este  edifício, me lembro do notável  crítico literário,  Álvaro  Lins (1912-1970)  que o menciona  num livro de memórias diplomáticas – Missão em Portugal (6).
      Esse livro me foi  ofertado  por um ex-aluno, Manuel  Chuva, um filho de portugueses, do tempo  em que lecionei no  Curso Policultura, já citado  anteriormente. Por pouco tempo, fiquei  no curso pré-vestibular. Primeiro,  em razão de não  querer  mais  cursar medicina; segundo,  porque  não  tinha  dinheiro  pra  pagar  o curso.Juntei ambos os motivos  e larguei de vez  a ideia de fazer medicina. Contudo,  neles havia  professores dedicados e competentes, todos  estudantes de medicina já em final  de curso.
     O diretor,  um rapaz  ainda bem jovem, pessoa  boa  e humana,  dava aulas de física e  português. Certa vez,  passara uma  tarefa de redação que consistia em  dissertar  sobre o tema “por que desejo ser médico.”  Escrevi  meu texto e lhe entreguei  para correção.  No dia   de devolução  dos  textos  corrigidos, li as observações  que  o diretor  me fez,  que foram  as seguintes: a)  “Você  tem algum  jeito para  redigir;  b) A sua  redação peca por falta de objetividade; c) A prática  de redação  lhe dará  muitos  progressos; d) Nunca esquecer de que deve dar margem  aos parágrafos.”
   O reparo do diretor igualmente  me  despertou  para o fato  de que, em Teresina,  ao escrever um artigo à mão,  não dava margem aos parágrafos. O jornal é que cuidava de  me enquadrar no formato  apropriado. Essa passagem de minha vida  sobre ela  já relatei   alhures num artigo no qual  falava sobre a experiência  inicial do  grande crítico Antonio Candido     de escrever pra colunas  de jornais. Recordo  ainda sobre  esse assunto que meu pai,  escrevendo  à mão seus artigos e outros  textos de sua  produção,  não  dava a margem aos parágrafos,  conforme anos mais tarde,  sendo encarregado por ele de   copidescar  seu livro Gatos do palácio(8), notei que, mesmo  a cópia  datilografada da obra,  não  estava com  as margens  dos parágrafos, o que  os ingleses chamam de indented lines
     Confesso que não gostei da afirmação de que  tinha “algum jeito” pra redigir. No meu  orgulho  próprio de quem,  em Teresina,  havia  escrito alguns    artigos pra jornais,  sendo até elogiado  pelo   professor, escritor e jornalista  A.Tito Filho,  como   ousaria  o diretor  me  dizer  que tinha  apenas “algum jeito pra redigir? Por algum tempo,  me   abespinhei  com aquilo   que, pra mim,  soava como crítica ou falta de valorização  maior que   julgava merecer. Puro  excesso de orgulho  juvenil.
    Das observações  do diretor, uma delas me serviu muito  de então pra diante   quando  escrevesse   algum texto: daria sempre  a margem ao texto, ao contrário do estilo  dos americano, em carta  comercial,  que não dão margem aos parágrafos.
  Disso tomei  conhecimento  quando, nos anos de  1967  a 1968, trabalhei como  "auxiliar", conforme está no meu  resisto da Carteira  Profissional,  da seção de Câmbio  do Banco do Intercâmbio Nacional (já extinto). Na verdade, veja-se a  exploração  capitalista -  fazia mais era  redigir cartas em inglês, ou verter textos bancários e comerciais  para esta língua, o que me  obrigou a  aprender  inglês comercial  e bancário através de bons  livros  comprados com dificuldades, sendo um dele – o excelente Correspondência comercial inglesa de J. L. Campos Jr.(7) -   adquirido  com  um dinheiro dado   por meu pai na sua  passagem pelo  Rio de Janeiro para um Congresso de Jornalistas em Porto Alegre, anteriormente   referido nestas      memórias. 
     A única  coisa ruim  que me aconteceu durante o período naquele banco  foi uma observação  de um  dos diretores ou gerentes, um cearense metido a besta, que falara mal do meu  inglês para o  gerente geral do Banco do Brasil, Moacyr Freyre, piauiense, pessoa humana que estava sempre ais necessitados.Soube  dessa  crítica do cearense através do que contou à minha   esposa, Elza, a Dona Santuzi, esposa do Sr Mocyr Freire. O casal era muito  amigo da minha  esposa. Sempre lhe deram, desde solteira,  muito apoio, mesmo até os primeiros meses de meu casamento.
   Mas,  lembra Shakespeare  com  profundidade  filosófica: "The evil that men do, lives after  them."   Aquele gerente   cearense, um  dia,  no banco  me chamou  à sua sala, no andar térreo,  que dividia com um outro  gerente ou diretor. O assunto  tinha sido uma carta em português que me pedira para verter pro inglês. Ele e o seu colega  de sala me perguntaram sobre   um enunciado que, segundo eles,  não  estava correto. 
    As memórias falham, mas, às vezes, acertam com uma nitidez   que nos  surpreende.   O  trecho  da  carta com o qual  estavam  implicando comigo era este  : "Sempre  que a oportunidade se fizer necessária,  far-lh-ei uma visita  em seu  seu escritório  em Londres." Desse modo  foi por mim  redigida: "Whenever an opportunity  presents  itself,  "I will pay you a visit at  your office in London." O cearense e o colega  desconheciam  os idiomatismos e os torneios   da língua de  John Milton.
    Os deuses estavam ao meu lado.  Naquela tarde, aconteceu  de chegar à sala dos gerentes ou  diretores um  senhor  de olhar afável embora  mostrasse ser pessoa  séria, inteligente e distinta. Era grego. Tinha  negócios de  exportação ou  importação, não sei ao certo. Soube, depois, conversando com ele a sós, que tinha  grande  convívio com a língua inglesa e era  um  homem  viajado. Aproveitando-se da presença  do senhor  grego, cliente  vip do banco,  os dois  gerentes, mostrando-lhe a minha  versão,  lhe indagaram   se aquilo  estava correto. "Corretíssimo!  -  respondeu com firmeza o senhor grego.    "Este rapaz, acrescentou  o senhor grego,   está com a razão". Os sabichões gerentes, sobretudo o cearense,  perderam  a voz e mudaram  o tom antes  doutoral. Era hora  de almoço, deixei a sala e tomei  a rua. Naquele  instante,  o senhor grego, virou-se pra mim e me perguntou:  Por que você não  procura a  Man  Power? Lá pode  encontrar uma colocação  para quem sabe  inglês. Disse isso e se despediu de mim. Nunca mais o vi.
    Antes que me esqueça, de outubro  1966 a março de 1967, trabalhei no First National  City Bank, Departamento de Câmbio na função de  "escriturário  principiante," segundo consta na  Carteira  Profissional. Na realidade,  trabalhava no balcão por ter  conhecimentos de inglês. Atendia mais a estrangeiros em tarefas  como  desconto  de cheques,  remessa  de dinheiro pro  exterior,  recebimento  de remessa de dinheiro,  fazer os respectivos cálculos  de conversão, preenchimento  de  formulário. 
   Na hora dos cálculos por vezes me  enrolava, de vez que nunca fui bom   em cálculos financeiros. O uso do inglês era diário. Entretanto,   os meus cálculos  tinham que passar pela  checagem de um  funcionário  e, desse modo,  se cometesse algum erro,  ele corrigiria. Consegui a colocação  graças a um colega meu de Faculdade, um  moço educado,  prestativo e amigo. de origem  espanhola.
   Passei por uma prova oral  - conversação em inglês, com um "officer"  -, cuja única ressalva  feita  foi  me afirmar que, ao falar inglês,  denunciava  um pouco de sotaque.   No mais, tudo bem, estava  por ele  aprovado. Além disso,  antes de concluir a entrevista  me perguntou se me interessava fazer,  em Nova Iorque,  um curso de trainee e, depois,  complementar com um curso em economia ou administração. Fui muito  franco  e sincero com ele, dizendo-lhe que não queria  me dedicar à   área  bancária, porque  estava   cursando  Letras. Não me respondeu nada. "The conversation   was over." 
    Em seguida,  tive uma última  etapa antes de ser admitido ao emprego. Era um  entrevista com o chefe de recurso humanos, de nome Tassinary ou algo  bem próximo a esse nome. Não me lembro,  todavia,   ter feito  prova  de conhecimentos  gerais. De uma coisa  estou certo,agora depois de  tantos anos: o que o City Bank me pagava não valia  as minhas  lágrimas  derramadas na presença de minha esposa  quando dele fui demitido. Era uma mixaria pra tanto   trabalho e exigência. 
   Durante o período no City Bank, conheci  muitas pessoas,  brasileiros e estrangeiros. Certa feita,  chegara ao balcão uma senhora idosa e de traços finos,   ainda bem disposta, acompanhada  de uma   jovem senhora muito   bonita. Elas vinham receber uma  valor  relativo a uma ordem de pagamento. A mais velha me entregou  um  aviso pra  comparecimento ao  Banco a fim de  receber a importância remetida. Eu mesmo as atendi. Assim que  vi  o sobrenome Da Costa e Silva,  meio sorridente  ia-lhes perguntar sobre o sobrenome. Elas,  porém, se adiantaram e me disseram : "Não é do  Presidente  Costa e Silva. É do poeta  piauiense Da Costa e Silva." 
   Então,  lhes disse que efetivamente não  estava pensando no Presidente  Costa e Silva, mas no  poeta da minha  terra,  Da Costa e Silva. Ficaram   surpresas com a minha   afirmação.As duas  senhoras eram  Dona  Creuza Fontenele da Costa e Silva e Alice Fontenele da Costa e Silva, respectivamente, a   segunda    esposa do "poeta da Saudade" e uma das filhas.a Alice, a mais nova.  de três filhos do poeta amarantino. Mal  imaginara   que,  anos depois,  ia revê-las justamente na casa  de Dona Ceuza, na Tijuca, justamente  durante a minha  pesquisa de mestrado versando  sobre o tema da saudade  do maior  poeta   piauiense.
  Data dessa data a amizade que    estabeleci com  a família  Da Costa e Silva.  Foi o período em que  tive o primeiro contato com  o  filho de Dona Creuza, o diplomata  e escritor  Alberto da Costa  e Silva, o qual me franqueou tudo que lhe foi  possível pra  desenvolver  a minha pesquisa sobre o seu pai.  O diplomata   me enviava  do exterior  farto material  bibliográfico sobre  Da Costa e Silva. Conseguira o primeiro contato  cm ele através do endereço do  diplomata no exterior  que me forneceu  um funcionário do  velho e majestoso Palácio do Itamaraty,  situado na  Avenida Marechal Floriano,  Centro do Rio. Com  o  Alberto  da Costa e Silva, troquei algumas  correspondências sobre o andamento da minha pesquisa.  O funcionário, muito solícito,   referia-se ao  diplomata  pelo nome  Da Costa,dito de forma  afetiva.  
     Noutra  ocasião,  chegou ao balcão do City Bank uma americano, a quem atendi  com  a tenção que me caracterizava exercendo  aquela função bancária. Conversando com ele,  soube que  admirava  o estudo  de línguas  orientais. Morava em  Niterói, no Saco do São Francisco.Chamava-se  Leonard Mesnar. Vi-o outra vez tempos  depois quando o encontrei perto de outro  banco  em que trabalhei, Banco de intercâmbio  Nacional, na  rua  Primeiro de Março, Centro.  Mr. Mesznar  me havia   dito  uma verdade: "Você só aprende uma língua  praticando-a  sempre,  em convívio com quem a fala, sobretudo se nativo." Não era uma novidade , porém era uma verdade. Não cheguei a procurá-lo no seu endereço   talvez por timidez ou  mesmo   acomodação.
    Outra vez,   apareceu  um senhor ainda  moço, muito gentil e  sorridente que me dissera: "Você trata bem demais  os clientes, sempre sorrindo e de bom  humor. Talvez mude com o tempo, pois a vida  nos vai  mostrando com as decepções pelas quais vamos  passando."  Ele era estudioso  de mapa astral e me   pediu  o  meu  nome, o  mês  e ano de meu aniversário. Um mês depois, se tanto,  voltou ao balcão pra  tratar de alguma coisa  e me  entregou  um envelope, no qual   constava  o mapa astral. alusivo ao meu signo, sagitário.Lendo-o em  casa,  pude constatar  que muita coisa  que ali  dizia dizia  repeito à minha personalidade. Durante algum tempo,  gostava de ler, nos jornais,   a seção  de horóscopo. Me divertia  sempre que  me era favorável  o teor  do meu  signo.
   Um outro dia,  apareceu no balcão  um  moço  a quem atendi. Havia outros dois colegas de trabalho  que   atendiam  no mesmo balcão. Ele veio  descontar um cheque. Conversa vai, conversa vem, vim a saber que ele era de Paranaíba, cidade litorânea  do  Piauí. Era funcionário da FAO (Food Agricultural Organization). Morava num país  de língua  inglesa. Depois,  me disse que era filho de um  escritor  piauiense,   Alarico da Cunha, cujo nome  não me era estranho,  pois meu pai  me falra  bem  dele e tanto  ele quanto  meu pai  colaboraram  no Almanaque do Parnaíba. Me recordo de um  exemplar   que folheei e nele havia um  artigo de meu  pai  que  estampava a foto dele no canto  superior  direito da página do artigo. Papai  estava bem moço, com o cabelo  ainda  negro.Esse moço de Parnaíba , vendo meu interesse por línguas,  me  recomendou que  ouvisse muito  discos com gravações   reproduzindo  diálogos  em línguas  estrangeiras modernas. "Ouvir  com frequência as gravações e os textos   respectivos  melhorava muito  a nossa pronúncia e a nossa   fluência." 
   De lembranças  gratas do banco  americano propriamente dito só levei de Mr. Dudley, um velhote americano,  um outro  "officer" de grande respeito junto ao à Seção de Câmbio.Com ele sempre falava em inglês. Sempre que ia à sua mesa, que ficava num canto  aos fundos da ampla sala de Câmbio,   a ele me dirigia pelo nome carinhoso de "Daddy."  Em apuros, recorria a ele, até quando me deparava, "at the counter," com uma gringazinha  que falava num   inglês  difícil de entender. "Don't  you worry, Francisco,  she's really   got a strange accent.  Matter of  region, you know.  Virando-se pra ela  disse: Just turn around the corner,   young girl,  and you'll find  the place you want." Saudades do velho Dudley! - uma autêntico  personagem de um filme de cowboy de uma cidadezinha  americana   conversando com outros   velhotes  sobre  bandoleiros  que acabavam de  assaltar um banco...
  Continua).

NOTAS:

(6)LINS,  Álvaro Lins.  Missão em Portugal (primeiro  volume).  Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960.
(7)CAMPOS JR.,  José Luís. Correspondência comercial  inglesa.   São Paulo: Editora LEP S.A, 1964. Li quase toda a obra desse autor.

(8) Esta obra, uma sátira  política,  quase nos moldes de outra obra dele,  Copa e Cozinha (Teresina,PI.: Academia Piauiense de Letras/Projeto  Petrônio Portella, 1988), conforme informou uma das minhas irmãs,foi  extraviada. Eu diria  por  negligência de meus familiares. É lamentável   que tenha  sido perdida. Tal  fato não ocorreria  se ainda morasse em Teresina. Enquanto  vivi com meu pai, cuidava de sua biblioteca, a que chamo afetivamente de  “quarto-biblioteca.”   Depois do falecimento de  meu pai (1990), tudo se esboroou do seu  pequeno mas valioso acervo, com obras  de muito valor e, por incúria,  extraviadas.  Eu me sentia  o “warder” de seu  espólio  bibliográfico.É imperdoável   esse fato.Outro fato desagradável que constatei foi o seguinte: a tese de meu pai,  O papel de Floriano  Peixoto na obra da proclamação e consolidação da República (1957)   - é triste  afirmar – foi  também extraviada. Por algum tempo,  estive com ela  aqui no Rio de Janeiro. Depois,  por amor  aos livros e respeito ao  acervo de meu pai,  numa das viagens a Teresina,  devolvi a tese ao se lugar  nas estantes. Não deveria ter  devolvido se soubesse que não iriam cuidar bem dos  seus livros,  ficaria com  a Tese que iria ter um lugar de honra  na minha biblioteca.A primeira Tese dele,  graças a Deus, se  encontra na minha biblioteca. Tem por título  A odisseia do cativeiro no Brasil. Foi  submetida  à Escola Normal  “Antonino Freire,” no concurso   para catedrático de Historia do Brasil, 1952. Essa Tese foi defendida e aprovada Meu pai suou muito, .  pois havia um  membro da banca. adrede escolhido  pra prejudicá-lo por questões  político-educacionais.. Menino, acompanhei meu pai  durante a defesa. Mais do que sua voz,  vejo a sua gesticulação   expondo eloquentemente o assunto ventilado. O dito  inimigo ali presente,  nas suas considerações, alegou  que meu pai  estava mais  no papel  de orador do que de professor. A  Tese que  foi  extraviada  foi  submetida  à cátedra de História do Brasil do Colégio  Estadual do  Piauí (antigo Liceu Piauiense), a qual não foi, no entanto,   defendida. Desconheço as razões.

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