quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Será que, no Brasil, alguém merece o nosso voto?







                                              Cunha e Silva Filho



               Se política brasileira constitui uma soma de simulacros, em que as imagens dos candidatos  se constroem   graças à publicidade  enganosa,  a marqueteiros   vendilhões, a mentiras  trocadas entre candidatos e, agora,  no segundo turno,   a recomposição de candidatos que, antes   se   atacavam olho no olho  ou em  viagens  pelo  país  afora,  já começam  a  jogar seus papéis múltiplos    no ping-pong de partidos   de orientações   ideológicas  díspares e incompatíveis com os seus programas  de governo e metas a serem   atingidas  durante  seus mandatos, como  é que fica  a cabeça do eleitor sem  ponto  de apoio  seguro,  transparente, diante   de tanta   balbúrdia?
            O segundo  turno   gerou a bipolarização pronta  a vender a alma  ao diabo  desde que seja  o vencedor   dessa segunda rodada. Os antigos  inimigos  se tornam, agora,   amigos de  oportunismo porque, na peleja  renhida,  tudo vale  nas alianças feitas. Os  fundamentos   ideológicos  dos candidatos  se esfarelam,  viram   uma salada  mista,   um saco de gatos,  um samba do crioulo doido.
           No meio  desse mafuá  de  novas   combinações   estapafúrdias,   o país  continua  desatrelado das suas obrigações e compromissos  assumidos da candidata-presidente: aumento  dos preços,  novas revelações de  corrupção,  violência  calamitosa,   o estado de Santa Catarina  em  polvorosa,  com  explosões de violência,  ônibus   incendiados,  bandidos  à solta  teleguiados  por  ordens de   alto crime  cujas decisões  partem  dos presídios. O país está em baixa,  política, moral  e eticamente.  Até  os  eleitores menos instruídos  que, porém,  têm   experiência da vida e dos homens, me  dizem   em conversas  na  rua  que   o país  vai  mal,  que ninguém  acredita mais em  políticos  nem  em melhorias para a Nação,  que estão decepcionados  com  todos e tudo  que  traz o sinete  do que  chamam de política.
           A crise  política  é de  ordem  ética,  de falta  de confiança nos nossos homens  públicos. Vejam-se alguns candidatos  reeleitos para  a Câmara dos Deputados ou para o Senado.  Vejam que os mais  bem  votados   nada podem  representar   de útil  ao país; são oportunistas  que,  por  pertencerem  à mídia  cultural,  são feitos   deputados e senadores. O pior: esses candidatos, durante  os mandatos   anteriores,   nada  fizeram  pelos  seus estados. Fizeram, sim,   para si  mesmos, ou seja,  para se   beneficiarem  das condições de marajás – condições  estas   que  não mudaram  desde os tempos   do Collor que,  por sinal,   foi  eleito  senador.
                   Transformamos a eleição  num  espetáculo  circense, no qual os eleitores  estão  presentes ao voto  para  se divertirem   com o próprio  cinismo  e falta   de auto-respeito.
        Não vejo  o voto nulo,  o  voto em branco  como  falta  de  atitude  cidadã.  Esse comportamento do eleitorado  tem sua razão de  ser: ele  espelha  a náusea que  cada um sente  pelo que  está  vendo acontecer no país. Ele sabe que,   ao se eleger  um   político para defender os   direitos  e  atender   aos anseios  da sociedade,  nada se concretiza das promessas   falaciosas  do que afirmou  na campanha.  Foram palavras ocas,  sem substância,  sem  o peso da verdade.
       Essa postura negativista  do eleitorado  é um sinal de alerta  ao sistema democrático  que, assim,  é posto  em dúvida  no que concerne à sua  validade. Quando  o embuste,  a mentira,  a falsidade,  e mormente  o cinismo   se tornam  moeda corrente entre  quem   abraça   a política  por  oportunismo   e interesses pessoais,  o nível de   ceticismo,  de  descrença do eleitorado   ascende  a proporções  alarmantes e perigosas  para   os alicerces da democracia  e se torna  presa fácil  para o arrivismo populista  ou messiânico, ou senão para  lançar os incautos  à fogueira  dos  regimes  de força  de triste  memória,  não só no Brasil como em outros  países.
Não se pense  que as manifestações –  compreenda-se, as pacíficas -  do ano  passado  contra   os erros da  política  brasileira, contra a corrupção  e outros  males nacionais foram  em vão. O  futuro  governante   da Nação  não pode nem deve subestimá-las. Elas  permanecem como um vulcão   pronto a entrar em  erupção novamente e com mais  poder de  força caso  não sejam   solucionados  os  graves  problemas   do país.
 O “homem cordial”  brasileiro tem suas complacências,  seu   lado  pacífico  e  ordeiro, mas,  se sentir   aviltado,  esbulhado em suas  justas  reivindicações,    saberá como agir sem violência nem depredações,  mas com a  firmeza  da massa  indignada contra os desmandos  do poder   arbitrário. E o mesmo vale para  todos  os  três poderes constituídos.   Lembrem-se os futuros governantes que  o mero  fato de  conquistar mandatos  políticos  não  lhes faculta    o  uso  do autoritarismo,  da prepotência,   da  enganosa  ilusão que, no exercício do poder,  possa arvorar-se  em   donos” do poder. A soberania  da nação  é apanágio  do  povo, não  de   políticos   de plantão.
O merecimento de nosso  voto  está  em estreita dependência  dos valores  morais, da integridade , competência  e do  real  desejo de os políticos   propiciarem  o bem-estar da   sociedade.

  



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