segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Eleições brasileiras: uma briga de foice




                                               Cunha e Silva Filho



                       Até pensei que as eleições presidenciais  seriam  realizadas em clima de respeito mútuo. Não é o que está  acontecendo  para vergonha de todos nós  eleitores.
                       Depois do infausto acidente aéreo de Eduardo Campos, duas  competidoras  saíram a campo (sem trocadilho), uma  atacando, a petista  Dilma, a outra, Marina,  se defendendo com o discurso  da prudência.  Marina vem das lutas  ambientais,  de voz  mansa,  baixa,  pouca  adequada  ao timbre  de vozes  de  candidatos que  almejam  vencer  no grito. Marina  é tranquila, não provoca,  não  alardeia,  lembra um pouco  as mulheres   indianas, mas, no corpo frágil, como  Gandhi,   parece ser dotada de   uma determinação  de querer  vencer,  de enfrentar  os desafios  enormes  do país. O PT não lhe dá trégua,  indiretamente  a ataca quando  associa  o nome do  falecido   Eduardo Campos  em outro   escândalo  relacionado   a benefícios fraudulentos   envolvendo  governadores,  deputados e senadores  de vários  partidos,  inclusive petistas. Mal  foram  prestadas homenagens a um  político  em ascensão, morto  precocemente, e já tem seu  nome  conspurcado  pela fúria  dos abutres  politiqueiros. A família de Campos deveria,  agora,   vir a público defendê-lo e exigir retratação. Afinal, um morto não pode se defender, o que torna mais  covarde  a suposta calúnia.
                        Dilma, por sua vez,  sempre  com suas  declarações  evasivas, diz que  as investigações  devem ser  feitas  e os implicados   punidos caso sejam   considerados   responsáveis  por seus delitos. É fácil perceber que  o PT vai jogar todos as suas cartas, todo o seu veneno  a fim de não perder  as regalias  do poder  imperial de que desfruta desde  a primeira posse do Lula.
Aécio Neves, em segundo  plano diante das duas  candidatas,  procura  tirar seus dividendos sem grandes  ataques,  sem ferocidades, o que lhe poderá  render alguns votos a mais. Porém, a polarização  já está   lançada. Dilma não quer  arredar do poder. Ninguém, segundo suas convicções,  lhe poderá  tascar a faixa presidencial. Ela ainda quer  andar, por mais  quatro anos,  de Rolls-Royce nas paradas  de Sete de Setembro,  com toda a sua coorte  e  áulicos  palacianos. Marina é a sua preocupação, a “pedra no meio do caminho.”  É preciso  derrubar  a frágil Marina, mulher  sem ostentação de vaidades femininas,   de gestos  moderados, de voz pausada, de olhar profundo como  se estivesse  sondando todos os  possíveis   golpes  baixos  dos adversários. Lembra mesmo  o tipo  comum de vestir-se de uma evangélica, de uma  mulher   simples,    sem physique de rôle. Nem quando foi  ministra  ou senadora  dava a impressão   exterior  de que   exercia   um cargo importante..
O apresentador Boris Casoy, em mesa redonda, conversando com  jornalistas,   pôs em dúvida a capacidade de Marna   para ser Presidente  da República. Não atinei  com  a perplexidade  dele porque a Dilma  nunca foi   prefeita, governadora, i.e.,  não tinha experiência de cargos  executivos e, no entanto,   aí está como  Presidente. O pior foi  o Lula, sem competência nem  escolaridade    para  dirigir  o mais  alto  cargo da Nação.Só tinha a seu favor a habilidade de  armar seus discursos  populistas, sua lábia, sua malandragem  política, seu messianismo,  sua fácil  e  sedutora  comunicação com   as massas. Neste talento é quase imbatível. Conseguiu  conquistar  o gosto tanto do  povão quanto  dos sociólogos  europeus ou americanos, que o admiram e julgam que seja    um político da esquerda, quando  sabemos que,hoje,  sua família  já se elitizou e ele próprio,  já  mudou  muito  seu aspecto   físico, sua indumentária., que não é mais a de um  ex-torneiro mecânico ou sindicalista.
Na verdade,  um Presidente da República, para governar  bem, tem que escolher  pessoas  competentes e íntegras para   serem  seus ministros. No entanto,  o PT, durante  toda o seus  período  no poder,  não  escolheu  as pessoas  corretas  para os cargos  mais importantes. A nomeação por razões politiqueiras e não pelo bom currículo  do indicado. Os cargos são, por assim dizer, loteados, mercadejados,    pelos diversos  partidos  que  constituem a chamada base política do governo, e é aí que  o desempenho  da governança se perde  no submundo   dos conchavos,   dos conluios,   dos bastidores   escusos   do balcão  sujo e fétido  das decisões  a serem tomadas ao arrepio  da  autenticidade   dos princípios democráticos, nas esferas  dos poderes  executivo e  legislativo,  assim como no Congresso  Nacional e até mesmo  respingando no judiciário.
O Brasil ainda está  longe de atingir  um nível   de excelência  na sua  forma   de realizar  eleições. Persistem os mesmo vícios atávicos, a propaganda  política  na televisão  e fora dela  ainda  se cerca  de  um  ritualística  que mais   se aproxima  da pantomima,  de um tosco  espetáculo circense,  de saltimbancos, prestidigitadores e ilusionistas  de teatro de revista de segunda ou terceira categoria. É uma ópera bufa, uma  cena burlesca, uns cinquenta minutos dignos de uma  peça  satírica vicentina. Esse palco de momices, de figuras  caricatas,   grotescas, é um banho, em geral,  de imbecilidades   empurradas goela abaixo de quem  assiste  a esse teatro  de comédia.     
Essa interrupção obrigatória foi  com justiça   chamada pelo brasileiros  de “programa  humorísticos.” Não sei por que cargas d’água ainda  o  Tribunal    Eleitoral  mantém   essa configuração rabaelaisiana.  A continuar com está,  o país  nada   renovou  nas formas de   divulgar  as ideias, em elevado nível,  de seriedade  e de  discussão  dos grandes  problemas   brasileiros.  
Com a balbúrdia de  coligações   de partidos  de  colorações as mais díspares, ou melhor, disparatadas,  não é possível  aperfeiçoar  nossa democracia  em bases de  elevação moral.Quando um país como o  Brasil  elege  oportunistas de todos  os  segmentos   da sociedade que se candidatam  para auferir  vantagens  e mordomias, quando  não   envolvimento  em   maracutaias, mensalões  e negociatas   com   criminosos   danos   ao  Erário Público, difícil se  torna  ainda ter esperança  numa democracia   de  verdade  entre nós.


       

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