terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Viagens: um aprendizado (2)



                                                                  Cunha e Silva Filho


                    De volta, agora,  à estrada com destino a Foz do Iguaçu. Foi um  longo  percurso. Estradas e mais estradas,  com a natureza de dia vista em sua paisagem  bela, colorida e diversificada. A manhã, linda e ensolarada,  com  nuvens  brancas, parecendo,   conforme a perspectiva e a imaginação   de cada um,  tomando  formas humanas ou não. Pelo menos era isso que  traduzia a imaginação  de Elza olhando para elas: anjos, Moisés com a Tábua dos Dez Mandamentos. As nuvens, pra mim, semelhavam  as barbas de Papai Noel ou  montanhas de neve no céu, ora meio paradas,ora movimentando-se e  metamorfoseando-se em outras figuras, dando-me a impressão de um mar azul  profundo com margens  de rochedos escarpados. Tudo,  porém,  tinha  uma configuração  que se esgarçava e assumia novas  contornos,  novas formas  difíceis de se distinguir  com  nitidez.
Algumas paradas que ninguém é de ferro: ir ao banheiro ou esticar  as pernas.Novamente,  pegamos a estrada  que parecia não ter fim, no movimento  de carros,  caminhões, carretas, em direções contrárias de pistas em  mão dupla ou mão única.
Chegamos, à tardinha, em Foz do Iguaçu debaixo de chuva, com algumas  hesitações em encontrar o caminho  correto do hotel em que ficaríamos  hospedados durante  a permanência ali
No mesmo  dia  nessa cidade, fomos  atravessar a fronteira,  em direção à Argentina. Antes de passarmos  pela Aduana,   entramos no Duty Free Shop. Elza,  Harley e Marisa queriam  comprar alguma coisa. Assim  o fizeram. As netinhas se deliciavam  com  tantas coisas a escolher num ambiente onde o castelhano  era o  idioma mais  falado.Aproveitei o ensejo pra praticar um pouco  o meu  enferrujado  espanhol mais lido do que falado.
Primeiro,  passamos  pela Aduana brasileira sem protocolos. Ninguém nos deu  por nós. Em seguida,  fomos passar pela Aduana argentina. Agora, era tempo de apresentarmos  nossas  identidades e  dizer  o que iríamos fazer em território  estrangeiro. Havia uma fila de carros em nossa frente. Esperamos  a nossa vez.  Documentos conferidos, registrados no computador. “Adelante!”, disse-nos  o funcionário da   Aduana. Estávamos em pleno solo  argentino, no estado de Misiones, na cidade Puerto Iguazú.
Olhava para as placas, os avisos, cartazes,  posters. Não via mais minha  língua escrita. Passou a soberano o castelhano e era com ele que tínhamos que agora lidar na comunicação e tudo. Nosso  objetivo era jantar num  restaurante  sugerido pela Harley, chamado “La rueda,” que ela dizia ser bom .Não tínhamos la dirección certa dele e tivemos  que procurar,parando aqui e ali, nas ruas estranhas  pra mim. Deixamos os carros “aparcados”  Perguntamos, em espanhol,a um e outro  pedestre, pelo local do restaurante. Afinal,  um deles nos  indicou  o lugar certo.
Era um restaurante  típico argentino, lugar simpático,  convidativo à música e à comida. Fomos recebidos  por um  moço  com cabelos  longos presos em forma de rabo. Indicou-nos uma mesa  que ficava no canto de uma das divisões do restaurante. Nada ali  me parecia  o Brasil.  Havia muitos  clientes,  numa  das mesas um pouco  perto da nossa,  conversavam em inglês um grupo de pessoas, provavelemente americanos, novas e idosas, mas nem tanto.
O “camarero,” falava  português  com fluência e  era  simpático. Perguntei-lhe  em espanhol, só para praticar a conversação,   se era brasileiro e ele me disse que não; era argentino e já tinha trabalhado   no Brasil e em outros países de fala espanhola.  A comida era boa, mas veio em  quantidade    pequena e o preço era alto.
Regressamos ao hotel em Foz de Iguaçu. No dia seguinte,  fomos de micro-ônibus ao Paraguai. Atravessamos  a Ponte da Amizade (Puente de la Amistad) em direção  à Ciudad del Este. Lá  fomos a um shopping, amplo e bem  movimentado. Novamente a parte feminina de nosso  grupo  foi olhar as vitrines, fazer compras. O interessante é que  as vendedoras, na maioria,  falam  português. São moças bonitas e gentis.
Não  ficamos,  Elza e eu, para almoçarmos  na cidade. Estávamos cansados.  Viria  o micro-ônibus nos  apanhar de volta pro  hotel em hora determinada.
Uma   outra vez, voltamos  à Argentina para almoçar em outro restaurante.A comida  era boa, contudo, mais uma vez achei que vinha pouco e o preço  também não era  baixo. Fomos, depois do almoço, a um supermercado, onde compramos  alguns  produtos. Harley comprou vinho e outros   itens  alimentícios. O vendedor  também  falava  português, que aprendera com uma namorada brasileira.
Passamos  por muitas ruas da cidade, olhando e fazendo compras. Foi numa dessas  ruas de comércio  que conheci um jovem argentino de dezoito anos, de nome Daniel, com quem  conversei longamente em  espanhol. Ele me dissera que  tinha   uma imensa  vontade de falar  português. Contara-me que tinha chegado  havia uns três meses àquela cidade  para  trabalhar na   loja de um tio que vendia   artigos diversos, uma espécie de  armarinho,  com   objetos de  souvenirs.   Confessara-me que estava com saudades da namorada, uma  quase “novia”que deixara em Buenos Aires. Ele morava em Buenos Aires com os  país e tinha terminado um curso técnico de nível  médio. Falamos  sobre música brasileira, de que  gostava.

Observei que alguma coisa que ele me dizia me escapava, pois o meu espanhol, por falta de  prática,  ficou  mais reduzido a leituras de livros  e de ensaios. Além disso, o argentino me dá a impressão   de falar  muito rápido. Regressamos  ao hotel em  Foz do Iguaçu, hotel, aliás, muito bom  e confortável, situado  em recanto  lindíssimo  cercado de muitas árvores.(Continua)

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