quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Santiago Andrade, o cinegrafista morto: apenas uma ponta do iceberg...




                                               Cunha e Silva Filho


             Ninguém  estaria a favor do  irresponsável  que  covardemente  ceifou a vida de um  competente e respeitado  cinegrafista da  Rede Bandeirante, o ainda moço  jornalista Santiago  Andrade, que,  como tantos outros  jornalistas brasileiros ou estrangeiros, estão cumprindo  com o seu dever de informar o público com as  imagens  que acompanham  o  trabalho das reportagens. Vi o depoimento  entrecortado  de dor da esposa do cinegrafista  diante das câmeras  da TV. É mais um  crime entre milhares que  estão ocorrendo de um certo tempo  para cá na vida  social  brasileira.
          Quem provocou a tragédia  seguramente não é o  único   culpado. Há culpados,  inclusive  o tipo de  política de segurança que  temos  no país e, de forma  mais  violenta, no eixo Rio-São Paulo.
        Este  crime  já há tempo era previsível.   Poderia  acontecer em manifestações a qualquer momento e  tendo  como  culpado ou um arruaceiro matando  um policial ou  um  policial  matando um arruaceiro. Era de se esperar  esta tragédia  anunciada  que  poderia ser evitada se nossas autoridades  dos governos  estadual e municipal  nos seus setores de segurança, da polícia  militar, polícia civil  tivessem tido  competência e respeito   público  diante da  população carioca clamando  por seus direitos.  Por isso,  o assassino  não é o  único  culpado. Culpados  somos todos  nós que elegemos   políticos  que, nos seus mandatos,  deixam muito a desejar. São, por isso,   autoritários e péssimos   gestores  em suas funções.  Veja-se no  estado do Rio de Janeiro. Temos um  governador  que, em geral, é repudiado  pelos cariocas. O prefeito, da mesma forma,  não é bem visto  pelo  eleitorado.
     Quando um  secretário de segurança quer submeter ao Congresso Nacional  um projeto  de lei  com  dispositivos  legais   que   enquadrem  arruaceiros e  grupos  mascarados  conhecidos  como  black blocs em crimes  hediondos ou ações  de natureza  terrorista,  faltou ao secretário estender  esta tipificação de crimes  aos assassinos  e monstros da sociedade  que há muito tempo  acabaram com a paz do Rio de Janeiro, tanto quanto a de  São Paulo e resto   do país.
    Numa terra de ninguém, como é a situação  de violência brasileira, uma das mais  altas do mundo, ele, ao contrário,  poderia  encaminhar  um  projeto de lei  bem  mais  eficiente, o de  prisão  perpétua  para  crimes  hediondos e prisão real, não  esta contrafação e este  arremedo  de punição protegidos  pelas  brechas  da lei e pela diminuição  de penas  por  bom comportamento,  uma hipocrisia  forjada  pela nossa  estrutura  jurídico-prisional.
    A mídia estrangeira dos países  adiantados e com  liberdade de imprensa,  a quem  sabe ler  nas entrelinhas, se solidarizou com   a imprensa  brasileira indignada com a morte  cruel  de Santiago  Andrade, mas  deu  um recado certo para  o governo  brasileiro atual: o de que  o governo petista  tem-se omitido  na proteção   devida aos  jornalistas   do país  que são  vítimas  também  da truculência  policial e de restrição à liberdade de imprensa.
   Temos vários casos  de  assassínios  e agressões  partidas  dos órgãos  de segurança contra jornalistas e repórteres. Urge que  as associações  ligadas  à imprensa  exijam  mais  proteção aos  jornalistas, fazendo com que  usem  indumentária  e equipamento  adequados   semelhantes àqueles  usados  em  tempo de guerra.   
    Isto seria um  grande passo  em defesa da  incolumidade  física  dos que  mourejam  na imprensa que vai para as ruas  fazer a cobertura de situações de violência,  crimes, protestos, manifestações  sociais  contra  governos  que são  hostis à sociedade, ou  corruptos com  o dinheiro  público, ou  não  estão  cumprindo  as promessas de soluções  de deficiências gritantes  da  população em áreas específicas e vitais, tais como  transporte  público,  saúde, educação,  lazer, cultura.
   É evidente que  a imprensa  esteja unida  em defesa de um  colega  morto, que todos  lamentamos  profundamente. Contudo,  há outras implicações  na morte  do jornalista das quais não se tem  ainda  a verdade mais funda.
  A resposta da  polícia do Rio  foi  direta e eficiente ao  revelar  os culpados. Mas isso,  não é o bastante. Só se tem a parte de um todo e é nesse todo  que talvez fôssemos  localizar  os verdadeiros  culpados. A morte de  Santiago  nos lembra a morte de Amarildo e de tantos  outros   despossuídos que  sumiram  da vista da sociedade e a  polícia,  e o secretário de segurança, e o ministério  público, e o  governador e a Presidente  Dilma  Roussef, os deputados, os senadores,  os ministros, por que não  foram todos eles  rigorosos  na apuração  dos culpados  por tantas   matanças  de cidadãos brasileiros impunes até hoje? Por que  não foram eficientes   e prontos  a dar  satisfação à sociedade.
   Os assassínios  bárbaros devem ser medidos  com  peso  igual.  Enfim,  onde estão a presteza e a resposta  imediata da  polícia civil e do poder  público  em geral  que não mobilizaram  avião e o escambau a fim de  caçar  assassinos que ainda  aí estão  livres, lépidos e fagueiros?
   Os culpados estão por aí,   sem  acusação nem  julgamento, nem  processos  que  levem  à  identificação  de criminosos de inocentes. Por que as forças  policiais do estado do Rio de Janeiro  não  debelaram  grupos   de criminosos e matadores que ainda  campeiam  mandando e desmandando  nas comunidades  carentes  cariocas?
  Lamentamos, repetimos, a morte de um jornalista  operoso  e  estimado  por  seus colegas; todavia,  lamentamos  também  e por igual  as mortes  de outros inocentes que não tiveram,  por serem  humildes e abandonados,  o mesmo tratamento  do  pranteado  cinegrafista  Santiago nem  o poderio da mídia  escrita e falada   de aglomerados   das comunicações.



           

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