sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Uma crônica sem assunto



                                               Cunha  e Silva Filho

           Não sei quem  falou  que, quando  não tinha assunto  ou tema  para escrever,  “inventava” um  à medida em que  a caneta ou  o teclado da máquina de escrever ou, agora, do  computador, lhe ia   fazendo  surgir  palavras, frase,  períodos e parágrafos, ou seja,  numa  escrita  automática  que   ia invadindo o espaço  em branco  ( o terror dos escritores!). De repente,  quando menos  esperava,  lá estava a crônica  prontinha   para ser  publicada ou colocada na gaveta, conforme  a possibilidade  ou não  de vê-la impressa num jornal,  revista e, quem , sabe mais tarde, em forma de livro. De qualquer modo,  a crônica ali lhe apareceu diante dos olhos    surpresos   pelo  fato   e pelo feito.
São  tantos  os sinais  que  nos dão a mente. Se o tema é  a política,    pensamos  na loucura de um prefeito que,  contrário a toda uma  população, no caso , a de São Paulo, determina  um aumento   extorsivo  ao comércio  e às residências, aumento  de IPTU, para ser mais  claro.  A mensagem é enviada à Câmara municipal  para aprovação ou  não dos edis paulistanos. A percentagem,  acumuladamente,  se não me engano,  é  a mais alta  da história da maior cidade da América Latina.
O pedido do aumento  do prefeito  vai para a discussão  dos edis. Como sempre,  há uma oposição de  plantão, uma espécie  de simulacro de oposição, melhor dizendo,    que  faz média  e, portanto,  não  concorda com  o abusivo  pleito do prefeito  Haddad, prefeito, aliás,  que nem  mesmo   soube  dirigir com  competência  um  Ministério,  o da Educação, quanto mais  ter  preparo para  administrar a  prefeitura  de São Paulo. Somente num país  dos bruzundangas  ou de vocação macunaímica é possível  acontecer  uma vitória de prefeito  que, sem  nenhuma experiência   de administração,   conseguiu  a inesperada  e meteórica reversão   dos níveis  de expectativa de vitória de  outros candidatos  graças a quê, adivinhem, ao apoio do PT, ou seja, do Lula.  O Lula é mesmo  um  homem de sorte,  que  escapa ileso  de qualquer  denúncia e, por cima  de tudo,  é ainda tido no  exterior,  por  homem  de  esquerda! Oh, esquerda de vida direita!
Procuro  o assunto para  fazer  uma crônica  e o que vejo  na minha  frente: um país cujo cotidiano  está empapado de violência  e de  corrupção  pipocando  a cada dia  no  interior  da  máquina  pública  com crimes   praticados  por   pessoas, funcionários púbicos  que deviam zelar pelo dinheiro   do contribuinte e, ao contrário,   cometem  malversações  e se  transformam do dia para a noite  em  milionários   com  patrimônios  incompatíveis com  os seus  salários.
Penso   estar difícil  encontrar um assuntinho  a fim de que  dê conta  desse gênero  tão   superiormente cultivado  por um  Rubem Braga, um Carlos Drummond de Andrade,   um Paulo Mendes Campos, um Fernando Sabino,  uma Raquel de Queiroz, um  Fernando Veríssimo, e tantos outros  grandes  cronistas   de projeção nacional. Contudo,  a inspiração não chega e  já está me dando nos nervos. Não posso fazer feio  diante dos meus leitores ou serão aqueles leitores  de Machado de Assis? Me desculpem, leitor, mas não vou aqui,  entre parênteses,buscar no Google as datas de  nascimento e falecimento. Façam   por mim,  desta vez, que lhes agradeço  desde já.
Tateio, tateio e não sai nada. Mas me  recordo de que hoje  fui a bancos,   vi pessoas,  por pouco me aborreci com  uma  caixa de restaurante. Ah, me lembro que ainda  entrei numa farmácia, sempre  com aquelas  filas  de comprar e pagar o  medicamento que  queremos. Entretanto,  nem isso consegui, pois não havia  o remédio   que queria, até parece que hoje em dia  todo  mundo  anda com  colesterol. As farmácia viraram  um grande comércio, uma verdadeira  indústria  da doença  e sabemos, por experiência, que  os achaques atacam, é claro, mais os velhos, sem falar  nos  preços dos  remédios que estão pela hora da morte.
As pessoas reclamam, reclamam, mas quem vai  dar  voz a quem reclama no  país pela alta  dos preços  dos alimentos,  de tudo.  O Mantega, na tevê, com aquela  voz  mansa,  tem  sempre  uma explicação  par  afirmar que  está tudo sob  controle quando,  na realidade  não está  já que  os aposentados   do  INSS, que são o  melhor termômetro indicativo   da subida  dos preços,   alegam, e com  toda a razão,  que  seus  proventos de aposentados não têm aumento na proporção que elevam  os preços  de todos os produtos ou por conta própria dos comerciantes, ou  por determinação do  próprio governo , quer  municipal,  estadual ou federal.  
Pensei, agora mesmo,  nas manifestações  que o  país tem enfrentado. Uma paisagem  de desolação. Tenho a impressão quando  vejo  o quebra-quebra, os  carros virados e incendiados,    as lojas  quebradas e os  bancos  arrombados ao mesmo  tempo que a correria  dos  pacíficos com medo de serem atingidos  pelo  spray de pimenta,  de uma  bala de borracha, ou de  uso  de gás lacrimogêneo que o país está  acéfalo,  em estado de anarquia,  ao deus-dará. Só  se  vê  polícia e manifestantes,   coadjuvados  pelos  misteriosos  black blocs. Quem  são eles, estes mascarados,  espécie de Robin  Hood às avessas  transformando   a vida urbana   em terra de ninguém. A que vêm? O que querem? Eis aí uma  pergunta para a decifração  dos  antropólogos e dos sociólogos de que o país  anda cheio.
Nesse ínterim,  lá em Brasília,  os congressistas,  os  marajás   dos altos  salários  (Cadê a devolução dos  altos salários que o presidente do Senado  nos prometeu devolver aos cofres públicos ?) da Câmara  dos deputados  e do senado  parecem  que não conseguem acordar  do  pesado sono    das delícias do poder e, bem perto deles,  no  Palácio do Itamaraty,   privilegiados  da vida  diplomática  são servidos pantagruelicamente  com café  que custa para cada pessoa vestida à Rio Branco  a migalha de R$ 150 ou R$ 180  reais. Imagine-se  que  isso  é apenas o café. E as outras  refeições? Enquanto isso,  na no boteco,  o  operário  mandar ver uma  xícara de café com  pão e manteiga...
Pelo que ando vendo  e lendo,  a grita  da nação  que  aspira ao bem do  Brasil não se corrigiu ainda,  porquanto as pesquisas  presidenciais  apontam   a candidata governista   nas preferências  do eleitorado. Será que o país está tão bem assim?!. Estou pensando em  dar  crédito ao Pelé sobre questões   eleitorais.

Sorte têm os governantes  brasileiros  com um  povo assim,  “homem cordial”,  país tropical,democracia   racial,   Maracanã,  futebol,  carnaval, praia, Copacabana,  Garota de Ipanema, samba,  feijoada,  cervejada,  botequim e malandragem de alto a baixo,   as favelas e suas UPPs (ouvindo-se ainda ao longe e nas noites fantasmagóricas  o eco dos gritos  de um Amarildo  torturado  e assassinado), mistura de todas as raças e religiões sem  grandes conflitos.Um povo unido,  tranquilo e feliz, O Brasil é mesmo   uma salada que dá certo  e  ao mesmo  tempo dá errado, que tem rico e que tem pobre, tem até  classe C. O que querem mais? Parafreseando um  poeta,   direi ao terminar  esta  página em branco: “Desconfio que fiz uma  crônica.”

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