quarta-feira, 20 de março de 2013

A farra das viagens ao exterior




Cunha e Silva Filho



É bom, é ótimo que um Presidente de um país chegue ao Vaticano para prestar homenagens diplomáticas à cerimônia da Missa Inaugural do novo Pontificado, até manter com o novo Papa um encontro particular. Nada a me opor a isso. Faz parte dos laços diplomáticos entre nações amigas e é proveitosos para ambos os países, o Brasil, a Itália e, por extensão, o Vaticano.

Entretanto, os motivos relevantes acima mencionados perdem grande parte de seu sentido quando uma Presidente, dirigindo-se à imprensa no exterior, afirma que compartilha dos propósitos do Papa Francisco no que diz respeito ao combate à pobreza, alegando que, em nosso país, esta meta vem sendo perseguida como uma das principais preocupações do governo petista. Ora, se pensarmos bem, não é difícil entender que o Brasil é um país de contradições e de empulhações. Ao mesmo tempo em que a Presidente Dilma Rousselff está em Roma, lá se hospeda em hotel suntuoso, com uma comitiva pantagruélica, custando ao Erário Público brasileiro a mincharia de sete mil reais a diária  por membro da comitiva que a acompanhou à cerimônia inaugural do novo papado.

O que vemos é o avião presidencial com todo conforto apinhado de áulicos do poder, se refestelando em hotéis de luxo, bem vestidos, bem nutridos à custa do contribuinte brasileiro que luta contra os conhecidos velhos problemas da nação: violência, transporte, segurança educação, para ficarmos apenas nos quatro Cavaleiros do Apocalipse.

Uma vez, uma pessoa conhecida da mídia brasileira perguntou à Sra. Dilma se ela gostava de ser presidente. Não pensou duas vezes: “Gosto.” Mas quem não gostaria de viver diferente do resto do povão que sofre todos os percalços de um país como o nosso? Não resta dúvida de que essa é uma das razões de um país querer reeleição, porque isso significa mais poder, mais mordomias, viagens internacionais, bons hotéis, boas comidas, bons passeios, enfim, a dolce vita sonhada por quem nasce, vive e morre em dificuldades como se dá com a maioria do povo brasileiro.

Um mandatário de uma nação que se propõe a dar o bom exemplo de austeridade jamais permitira que, em viagens ao exterior, mesmo quando estas tenham importância para o desenvolvimento do país em variados setores da vida pública, fosse acompanhada de bajuladores e arrivistas que estão sempre cercando a cúpula do poder,  palacianos de um espaço de Palácio (pode ser o do Alvorada ou outro qualquer de cada estado) que uma vez, em livro meu pai, Cunha e Silva (1905-1990), jornalista piauiense, chamou de “Copa e Cozinha.”

Se a Presidente Dilma quer dar exemplo de austeridade com o dinheiro do povo e dele obter altos níveis de aceitação pessoal no alto cargo que ocupa, ela deveria refletir melhor sobre esse assunto. Os acompanhantes da Presidente – e há um deles (adivinhem quem?) que sempre se encontra por detrás dela com olhar sisudo - , não foram delegados pelo povo a fim de usufruir das benesses da função presidencial. Bastaria que alguns poucos ministros e assessores da Presidente, assim como do Ministro das Relações Exteriores, para formar a comitiva representando os brasileiros na terra dos Papas.

Enquanto o a Presidente está em Roma, aqui em Petrópolis os pobres estão sofrendo mais uma tragédia que atingiu pelo menos umas trinta vítimas que foram encontradas nas escavações, acrescidas de dezenas de desabrigados e de outras tantas que ainda estão soterradas. A tragédia da região serrana, como de outras regiões do Rio de Janeiro e de outros estados se repete anualmente co a chegada das inundações que arrasam tudo que encontram pela frente.

Chama-se a isso de tragédias anunciadas. As verbas que são liberadas, em 2011, pelo governo federal, segundo informou a imprensa, até hoje não foram usadas em benefício das regiões atingidas.Ora, se uma verba vultosa demora a ser aplicada, significa que nada foi feito pelos governo estadual e prefeituras.

Resta indagar onde se encontram tais verbas? Por que não forma utilizadas em contenções de encostas, em construções de moradias dos sem-teto em lugares seguros ainda que afastados dos locais onde viviam. O trabalho da Defesa Civil é fundamental, dos bombeiros, dos voluntários, mas isso não é ainda suficiente porque o que deve ser feito com urgência e espírito público está ligado a obras de engenharia de estradas, a ações efetivas da Secretaria de Habitação, à assistência social, e estratégias do governo estadual com a ajuda federal para evitar que moradias sejam construídas em terrenos de risco.

Um dos maiores entraves da verbas federais são os trâmites burocráticos com o agravante de que dessas verbas muitas são desviadas criminosamente por prefeitos sem fiscalização do governo do estado. Assim como há ainda em nosso país a “indústria da seca”, há também o que podemos denominar de “indústria das inundações”.

Governos estaduais e prefeituras têm que ser responsabilizados por todos as desídias e mau gerenciamento do dinheiro público destinado a minimizar esta sequência de tragédias que assolam o Rio de Janeiro e outras cidades em todo o país. Ao se omitirem diante das suas obrigações de governantes, os políticos brasileiros estão agindo como irresponsáveis e bem poderiam responder por suas negligências, as quais equivalem a verdadeiros crimes contra a sociedade. O povo brasileiro não pode continuar assim indiferente a tragédias que poderiam ser, em muitos casos, evitadas ou, pelo menos, minimizadas, se o povo deixasse de ser tão acomodado e insensível aos irmãos brasileiros vítimas das enchentes de cada ano.



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