domingo, 6 de janeiro de 2013

Poeta brasileiros que escreveram em línguas estrangeiras







Cunha e Silva Filho



Nesta coluna apresento ao leitor dois poemas, um em francês e outro, em inglês, escritos pelo grande poeta Manuel Bandeira . Na obra poética do grande lírico, salvo engano, ele só escreveu cinco poemas, três em francês, dois em inglês. Em francês, estão “Chambre vide” (Libertinagem, p. 207), “Bonheur lyrique” (Libertinagem, p. 208) e “Chanson de petits esclaves” (Estrela da Manhã, p. 234); em inglês, contamos com “John Talbot” (Mafuá do Malungo, p. 370) e "...E.E.CUMMING"(Mafuá do Malungo"p. 436).
Sabemos que notáveis poetas brasileiros, uns mais outros menos, se devotaram a escrever em língua estrangeira, como são os exemplos de José Albano (inglês,, francês, italiano, alemão), Alphonsus Guimaraens (francês), Murilo Mendes (italiano), entre outros. Creio que as razões que os levaram a escrever em língua estrangeira são múltiplas. Em Bandeira, entretanto, é mais simples entender. Bandeira era um virtuose da poesia, uma poeta impulsionado pelo experimentalismo e pela renovação de seu estro. Para ele, a poesia inegavelmente era um campo fértil de procurar diversificar os aspectos do que chamaria de uma “estético o lúdica do poético”.

Daí seu gosto pela paródia, pela ironia, pela imitação, pelo amplo recurso da intertextualidade e intratextualidade. Nos seus poemas à maneira de, formas que já tinham sido, guardadas as proporções do tempo da produção do poeta piauiense, testadas pelo “Poeta da Saudade”(2), o piauiense Da Costa e Silva  (1885-1950). O gosto bandeiriano pela imitação para fins de experiências formais é que o levava à variação dos recursos de estruturação de poemas e de uma espécie de inclinação a considerar a literatura como um espaço onde se interpenetram diacrônica e sincronicamente todos os possíveis caminhos da exploração do poético.

Este é um dado universal de seu estro e de sua produção, que não foi grande, porém o foi nas suas singularidades e na sua variabilidade de linguagens. Poeta culto, com domínio dos principais idiomas modernos, ele mesmo tradutor da poesia universal, .ensaísta, antologista de grande sensibilidade na seleção de autores, e historiador de nossa literatura, professor universitário de literatura hispano-americana e autor de obras nessa área, por tudo isso Bandeira era aquele autor fartamente aparelhado para inúmeras incursões no domínio literário.

Ensaístas houve que o acusaram de falta de originalidade, a ponto de o crítico Eugênio Gomes injustamente chamá-lo de “poeta xexéu,” em virtude dessa sua flexibilidade e gosto para a práxis poética ancorada em outros poemas usados por ele em diversos poemas onde a alusão literária, a paródia, a imitação, os jogos de linguagens, o ludismo, a inovação, a mudança, e sua extraordinária capacidade de renovação e de entender superiormente quando deveria atualizar-se e estar à altura de sua época.. Foi no seu prestigiado Intinerário de Pasárgada, verdadeira autobiografia de alguns passos fundamentais de sua carreira de escritor e sobretudo de suas valiosas explicações de seu processo criador, que ele, naturalmente respondendo a seus detratores,  justificou que  o fato de empregar tantas alusões poéticas não se devia à ausência de originalidade e de criatividade Não  passava, segundo ele,  em grande parte, de homenagens tributadas  a grandes poetas de sua predileção.

Vejam-se abaixo os dois poemas mencionados acima em tradução minha bilíngue: (3)







CHANSON DES PETIS ESCLAVES





CONSTELLATIONS

Maîtresses vraiment

Trop insouciantes

O petits esclaves



Lês cieux sont plus sombres

Que les beaux miroirs

Finis les tracas

Finis toute peine.



O petits esclaves

Black-boulez les reines



La folle journée

J’aurai vite fait

D’avoir mis d’emblée

Toutes les sirènes

Sous mes arrosoirs



Car voici demain



O petits esclaves

Secouez vos chaînes

Donnez-vous la main.





CANÇÃO DOS PEQUENOS ESCRAVOS





CONSTELAÇÕES

Senhoras verdadeiramente

Muito negligentes

Ó pequenos escravos

Sacudi vossas correntes



Mais sombrios estão os céus

Do que os belos espelhos

Acabai com todas as fadigas

Daí fim a toda pena.



Ó pequenos escravos

Repudiai as rainhas



O louco dia

Logo terei transformado

Por haver colocado de um só vez

Todas as sereias

Sob meus regadores.



Eis aqui, o amanhã



Ó pequenos escravos

Sacudi vossas correntes

Dai-vos a mão.





















...E.E. CUMMINGS





THANK YOU for the exquisite Jam

TH

An

K you

too

) or also (

for the

71

Cumm

Ing’

Oo? E! ms!!

An

d now

get into this brazilian hammock and

let me sing for you

“Lullaby

“Sleep on and on…”



Xaire, Elisabeth







…E.E. CUMMINGS





LHE SOU- GRATA pela deliciosa geleia

O

bri

gado

a você

) e ainda (

pelos

71

po?e!mas!!

de

CUMM

ing

e

a gora –

entre nesta rede brasileira e

deixe-me cantar pra você:

“Canção de ninar

“Durma, durma, durma...”



Xaire, Elisabeth.


Notas:




(1)BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Volume único..Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar S.A., 1986.

(2)A respeito de técnicas de espaço intertextual em Da Costa e Silva e outros processos de recriação de estilo clássico ou medieval, veja-se o meu livro Da Costa e Silva: uma leitura da saudade. Teresina, Piauí. Academia Piauiense de Letras/Universidade Federal do Piauí, 1966. Ver, em especial, o 2º capítulo, “Memória e intertextualidade”, p. 35-50. Ver também o meu estudo Da Costa e Silva: do cânone ao Modernismo. In: SANTOS, Francisco Venceslau dos . Geografias literárias. Prismas, 4,. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2003, p. 103-122. Nesse ensaio, discuto, entre outros aspectos, a faceta experimentalista e tecnicamente elástica do poeta Da Costa e Silva, sua propensão inata a mimetizar poemas clássicos e de feição do português medieval. Ainda me proponho no estudo a aventar a possibilidade de uma influência do poeta piauiense sobre Bandeira no que tange não só ao vezo mimético de poetar formas distantes no tempo e no espaço de construção do verso, como também semelhanças de temas, de ritmo e de semântica, como é exemplo o paralelo feito entre o poema “Carnaval”, de Da Costa e Silva e “Carnaval,” de Manuel Bandeira. O mesmo ocorre, no referido ensaio, na minha comparação entre o poema “Refrão do ter noturno”, de Da Costa e Silva e “Trem de Ferro”, de Bandeira.
(3)Não foi por ora meu propósito fornecer ao leitor algumas informações sobre tema e mesmo alguns comentários de natureza biográfico-cultural referente ao segundo poema traduzido. Deixarei para uma outra occasião.






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