quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Novos mandatos: velhas mordomias mantidas




Cunha e Silva Filho


O homem médio, o homem comum, o ser que faz parte da multidão, velhos ou mais jovens, homens ou mulheres, permitidas as costumeiras exceções, ao falarem, em conversas informais de rua ou num bate-papo casual e único, da posse de novos vereadores, deputados estaduais, federais, só para nos limitarmos ao poder legislativo, não me convencem mais de uma falácia: “- Vou votar em políticos novos. A nossa política tem velhos demais, e por isso necessita de novas ideias, de novas visões depuradas de vícios antigos que há anos e sobretudo nos últimos anos, caracterizam a história política brasileira ou de outros países com alguma semelhança com o nosso. Ele, ou ela, é jovem. Não vai compactuar com a corrupção, com as práticas reprováveis dos mais antigos.” “ - Ora bolas, juventude ou mocidade não significa atestado de idoneidade moral. Há jovens íntegros como os há corruptos ou corruptíveis”. Por conseguinte, a prática política continua num impasse no que tange ao exercício de mandatos. Agora mesmo, a imprensa televisiva nos apresenta reportagens que, mais uma vez, nos deixam indignados, perplexos, com um pé atrás, com respeito a políticos de nosso país.

A mais nova reporta-se às mordomias palacianas, a começar dos salários , que são altos, muito altos em comparação à média dos salários do povo. E as regalias não se restringem só aos salários, mas aos carros, que devem ser novos, às ajudas de custo para despesas com roupas elegantes, direito a gordas cotas de gasolina etc, etc. Para isso, são gastos milhões de reais para sustentarem esses novos “representantes do povo.” Que representantes! Estamos no melhor dos mundos possíveis. Obviamente, não estou aqui criticando que parlamentares não recebam salários, mas sim que sua remuneração e benefícios de cargo não sejam tão escandalosos em comparação com as condições de vida do homem brasileiro pobre ou mesmo miserável. Ninguém, em sã consciência, pode me rebater que todo esse dinheiro junto gasto pelo Erário Público, se fosse revertido para o bem comum do povo seguramente faria deste país uma lugar mais feliz e justo. Ou os parlamentares mudam suas práticas de mordomias, ou o país perderá a vez de se tornar respeitado por outras nações, dado que vivemos numa aldeia global, onde a in formação é instantânea e multiplicadora.

Se passarmos para o nível mais elevado da regalias palacianas, temos os deputados estaduais, os federais, que, dependendo da importância do estado brasileiro, ainda custam mais e mais aos cofres públicos. O leitor mais maduro se lembra da história do “caçador de marajás”, o novo grande líder que, de repente, cai nas graças ingênuas do povo brasileiro e se torna presidente, ganhando voto de parte – acredito que mínima – até do sexo feminino por ser o candidato um homem que, segundo elas, tinha boa aparência, como se a beleza física fosse um atributo digno da mais alta função pública O final da tragédia tupiniquim sabemos qual foi para o povo e para a memória do Chefe do Executivo...

Pois bem, essa longa e crônica história das mordomias da política brasileira não acabou e nem tenho esperança de que venha a acabar. O país só mudará com o aperfeiçoamento da educação brasileira - única saída que encontra como meio de desalienação das multidões.

A dinheirama gasta com esses maus políticos, que aceitam de bom grado todos os privilégios de que faz parte o pacote legal de mordomias desses legisladores que se dão os próprios aumentos com porcentagem voraz e pantagruélica, daria para tornar a vida do brasileiro sofrido em vários setores da vida: habitação, hospitais bem equipados, segurança eficiente para a proteção do povo, ensino de qualidade e transporte bem mais acessível ao bolso do cidadão, remédios com preço compatível à população menos favorecida, entre outras necessidades básicas de uma sociedade de níveis diferentes..

Este é o exemplo de “dignidade política” que o país tem dado aos eleitores com os votos dos quais aqueles políticos se alçaram ao poder. Não há democracia que se sustente com corrupção, injustiça social e desrespeito à soberania do povo. A riqueza de uma Nação tem que ser partilhada por todos os indivíduos que a constituem, e não por castas privilegiadas que se encastelam num sistema político eivado de prerrogativas elitistas que as afastam do povo.

A função política não tem como objetivo fundamental dotar o individuo que conquista um mandato com regalias faraônicas, incompatíveis com a vida da maioria da população. Ao contrário, o dever do parlamentar é procurar tornar cada vez melhor a vida do homem comum e sobretudo dos menos favorecidos. Há países de avançado nível de civilização e de respeito ao bem-estar da sociedade cujos políticos nem mesmo são remunerados pelo seu mandato. O Brasil está muito longe de alcançar essa utopia de desprendimento e de hombridade de comportamento no cargo público.

Enquanto os grandes e numerosos males da política se mantiverem inalteráveis, a sociedade brasileira não sairá de estado de submissão a que está atrelada desde a era colonial.

A abertura à modernidade só se dará, repetimos, com um maciço investimento em nosso ensino propiciado universal e gratuitamente por todo o território nacional, eliminando de vez o analfabetismo e formando professores competentes e atualizados, ganhando bons salários que os estimulem a uma mudança profunda e definitiva a fim de atingir níveis de qualidade iguais ou aproximados aos mais avançados países do mundo. Tal patamar por todos nós almejado não se efetivará se nossos políticos continuarem na farra das mordomias para vergonha da imagem do país e maior descrédito da figura do político brasileiro.



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