sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Erraram os meus prognósticos




Cunha e Silva Filho



Nos jornais do mundo inteiro, nas tevês, talvez nas redes sociais, nas revistas de projeção o que continuamos presenciando impotentes (o que pode fazer um simples blogueiro mortal?) é a superior força do Mal contra o Bem, sem trocadilhos maniqueístas de minha parte, não sei do leitor, já que cada leitor tem lá suas opiniões convergentes ou divergentes. Mas o massacre na Síria prossegue ainda com força por parte dos facínoras do poder imposto àquele país – terra arrasada, ruínas da humanidade.

Dentro do possível e do impossível, tentou-se, por vias pacíficas, encontrar uma saída. De nada adiantaram os enviados da ONU, do seu Conselho de Segurança, das críticas e repúdios de autoridades de países como os Estados Unidos, que, por estarem mais mergulhados nos seus próprios problemas econômicos e de saúde, parecem ter dado as costas para os mortos, vítimas de assassínios oficializados e fardados. Não adiantou que a Turquia fechasse o seu próprio espaço aéreo impedindo que aviões russos transportassem armamentos para seu aliado, a Síria. Lá, impassível, diabólico, permanece o ditador, ditando ordens para matar. Só o poder lhe importa e de seu sinistro grupo de asseclas, base aliada da cumplicidade áulica da desumanidade sem freios.

As cifras são já uma enormidade, uma montanha de inocentes mortos. Morte da cidade pelas explosões indiscriminadas e mortes de opositores e da sociedade civil. Parece que os órgãos internacionais de segurança só têm olhos pra a grave crise econômica afetando covardemente - espécie de guerra monetária – que está matando socialmente algumas nações europeias mais afetadas, Espanha Portugal e a velha Grécia, cujos deuses mais conspícuos também parecem que para ela deram as costas.

A União Europeia não foi criada para desunir as nações-membros, mas para ajudar nos momentos cruciais de dificuldades financeiras, tais como os enfrentados atualmente por aqueles países. Impor ajuda milionária de euros a esses países com economias esfrangalhadas à custa de sacrifícios das populações sem poder de barganha, de voz própria, é ato de extrema covardia dos donos do poder. Produzir desemprego, fazer cortes de salários e, absurdamente, ainda aumentar tarifas e impostos que irão recair sobre a sociedade já cambaleada, é insustentável e desumano. Caso de polícia.

Por que, não se preveniram os governos locais gastadores e perdulários, senão corruptos, junto com a União Européia, contra as consequências que estão aí infernizando milhares de vidas? O povo de cada nação prejudicada não é culpado desse estado de coisas no campo de sua economia. Uma pergunta é oportuna a esta altura dos acontecimentos: os membros dos governos afetados pela gravíssima crise não perderam suas regalias, seus gastos, suas mordomias, seus salários.E esta postura dos governos é igual para todas as nações. São, por si sós, “direitos inalienáveis”, parte indivisível dos grupos do poder, em Estados democráticos como em Estados autocráticos.O Leviatã é causa pétrea, direito divino, intocável. Ai de quem o afronte. O destino da vítma não é difícil de prever...

Da mesma forma, a elite econômica, o alto capital, do país, os milionários ou multimilonários, os grandes investidores que podem globalizar seus lucros fora das fronteiras do martírios autoritariamente impostos a essas sociedades, continuam e vão continuar fazendo suas viagens, suas reuniões tanto na União Europeia quanto no FMI, bem vestidos e bem alimentados, falantes e sorridentes, até parecem que estão no Paraíso.O povão, não. Este, em cada país solapado, das autoridades só tem recebido bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes, spray de pimenta, empurrões, socos, pontapés, prisões injustas nas manifestações contra as injustiças praticadas contra seus direitos de empregados, funcionários e pensionistas.

Será que policiais nesses países de crise estão sendo cortados nos seus direitos salariais, de pensões, de aposentarias? Creio que não. As armas são o poder da força bruta contra os fracos e humilhados e elas não têm coloração política. Agem por automatismos, são peças robotizadas criadas pelos sistemas de governo de todos os gostos ideológicos. A selvageria é tão grande que ontem um senhor de sessenta e cinco anos, numa manifestação em Atenas, não suportando as pressões policialescas, teve um ataque cardíaco em plena manifestação contra o governo. Então, o que poderiam fazer os cidadãos injustiçados e oprimidos? Ficar calados e passar fome e dificuldades, amargar as determinações autoritárias dos governos incompetentes e perdulários? Permanecer calados diante da tirania econômica é dar mais poderes discricionários a esses arremedos de democracias esfarrapadas e irresponsáveis.

A questão econômica e a questão da guerra civil se imbricam e não são estanques. A Síria pede socorro ao mundo, grita a sua dor dos mortos e ofendidos, perde sua configuração político-institucional, transforma-se no caos, no vazio de desgoverno. Suas cidades estão devastadas. Para qualquer canto que olhemos, só destroços vemos consternados. Os mortes, aos milhares, estão espalhados, muitos provavelmente insepultos debaixo de escombros. Não concebo como países do porte da Rússia, China e Irá ainda têm dado apoio por armas ou por declarações a toda essa carnificina de que a Síria é vítima. Tempos apocalípticos, visões dantescas, fedendo a holocausto e trazendo às nossas consciências as mais tristes e sombrias lembranças das duas guerras mundiais, do Vietnã, enfim, de todas os conflitos bélicos sofridos pela humanidade. E pensar que alcançamos tantas conquistas de ordem técnico-científica. Tantas contradições é forte demais para a consciência dos que aspiram por um mundo melhor, porém tão ainda distante de nossos desejos e prognósticos. Erraram meus prognósticos   quando ainda vejo a  quase indiferença das nações desenvolvidas  e em desenvolvimento com respeito à  questão síria.


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