sexta-feira, 27 de julho de 2012

A diplomacia brasileira no caso da guerra na Síria





Cunha e Silva Filho


Na viagem da presidente Dilma  Rousseff à Inglaterra a fim de prestigiar os atletas brasileiros na abertura dos Jogos Olímpicos, estranhei que tivesse declarado que o Brasil não seria um país cuja política exterior se alinharia aos países-membros da ONU que se mostraram dispostos a intervir militarmente no sangrento conflito da guerra civil entre os sírios oprimidos (os rebelados) e as forças ditatoriais de Bashar al-Assad. No entanto, parece-me que hoje a presidente modificou seu pensamento em relação aos massacres determinados pelo ditador sírio contra a sociedade civil e indefesa.

Um país como o nosso, que se proclama paladino da democracia e dos direitos humanos, não estaria agindo diplomaticamente e com seriedade se compactuasse com o derramamento de sangue que há mais de um ano está destroçando milhares de vidas. Ser contra a intervenção imediata na Síria não seria uma prova de independência, coragem e de alto espírito humanitário que a importância de nosso país já desfruta entre as nações do mundo.

O Brasil não deve procurar apenas desenvolver relações econômicas com países que, segundo uma divisão geopolítica proposta pelo professor Michael Ignatieff, da Universidade de Toronto, citada em artigo de Clóvis Rossi ("Líbia,   Síria e a divisão do mundo"Folha de São Paulo, 15/07/2012), estaria separando o mundo em dois, de um lado países do Ocidente fracamente aliados politicamente e com problemas sérios financeiramente e dois países que seguem sistemas de governo autoritários, a Rússia e a China, chamados pelo mencionado professor de “cleptocracias que misturam economia de mercado e Estado policial”, o que ele define como “algo novo nos anais da ciência política". E são justamente esses dois países que têm vetado, por interesses meramente estratégicos e econômicos, as sanções contra a Síria.

Ora, um país que se declara plenamente em gozo de seus direitos democráticos , como é a situação do Brasil, está dando mau exemplo no que tange às suas relações de política externa. Países que cooptam governos autocráticos não deveriam fazer parceria com as chamadas democracias ocidentais. Por que não reforçar e renovar as aproximações com a América Latina, e as demais nações de toda as Américas e dos países europeus em tantas direções para o desenvolvimento e ajuda mútua a fim de fortalecermos o Ocidente e outras regiões do planeta com as quais poderíamos iniciar parcerias econômicas e culturais? Nações com sistemas políticos divergentes não terão muito futuro e seus negócios podem resultar frustrantes a médio ou longo prazo.

Sem pretensões hegemônicas ou laivos imperialistas nações como a nossa precisam, sim, incrementar relações fecundas com outras que compartilham iguais ou aproximadas formas de governo. Não acredito que liberdade democrática combinem com estados de exceção ou mesmo países que estão ainda sendo regidos por ideologias superadas e autoritárias.

Certa vez, um intelectual de grande expressão do Piauí, Higino Cunha (1858-1943) ) em conversa com meu pai, o jornalista Cunha e Silva (1905-1991) afirmara, como se desejasse vaticinar – e aqui me lembro da bela defesa que o grande crítico Antonio Candido, aos 93 anos, em entrevista fez do que ele entendia por socialismo -, que o futuro da humanidade seria o socialismo, i.e., um sistema de governo que, reconhecendo diferenças entre indivíduos, funcionaria em plenitude sabendo arbitrar seus objetivos sociais de tal sorte que uma sociedade funcionasse sem o recurso ignóbil da exploração do capitalismo feroz pelo expediente da mais-valia excessiva, mas dividindo as riquezas da nação abolindo a pobreza absoluta e os desníveis econômicos, sociais, culturais e de oportunidades iguais a todos em áreas vitais como a educação, a saúde, a segurança, a moradia, o lazer, enfim todos os bens materiais e espirituais de que necessita o indivíduo para viver feliz. Em nosso tempo.

Isso equivaleria a afirmar um socialismo de um Estado probo, com leis justas e que fossem cumpridas pelo cidadão, independentemente de sua condição social, étnica, religiosa, profissional., com leis que fossem cumpridas sem brechas, isolando da sociedade os criminosos de toda espécie, erradicando a impunidade instalada há longo tempo no país, e redesenhando os três poderes sob a égide da moralização, sem regalias pantagruélicas e de ordem institucional, quer dizer, modernizando a sociedade em direção ao bem-estar geral do seu povo.

Retornando ao tema da guerra civil na Síria, já e tempo de que o Conselho de Segurança da ONU revigore seu pedido às duas nações, China e Rússia) que estão impedindo que a Síria, que já avisou ao mundo, utilize armas químicas contra indefesas populações civis, o que ainda mais agravaria o grau de ferocidade e de desumanidade que o ditador tem demonstrado no seu desastrado governo. Se o ditador usar as armas que anunciou ele estará dando a si próprio um ultimato de capitulação de seus dias no poder.O Brasil pecaria por omissão e irresponsabilidade diplomática se não se dispuser a a apoiar a aprovação de uma tomada de decisão militar na Síria.O martírio dos sírios  já chegou  ao limite máximo.

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