terça-feira, 15 de maio de 2012

No país das CPIs









Cunha e Silva Filho


Tempos atrás já houve o famigerado “Mensalão.’ Os jornais, os canais de televisão, as rádios, o povo só falava de um assunto: formação de quadrilhas, lavagem de dinheiro, superfaturamento, pagamentos de propinas, tráico de influência, lobbies, dinheiro metido nas cuecas, cenas de imoralidade política e mau-caratismo entre gente do governo federal (tempo de Lula) e do setor privado. O desenlace: da tragicomédia: a impunidade com poucas perdas para os acusados.  Os envolvidos estão aí, dando consultoria escrevendo para jornais de grande porte, ou mesmo exercendo ainda a política.

A Folha de São Paulo, à semelhança de folhetins do século 19, publicava, em várias páginas, iguais a capítulos, todos os passos dos desdobramentos da “vergonha nacional”. Ninguém sabia de onde vinha a verdade dos fatos, ou se sabia, ficava calado, mudo como uma pedra. Não a de Drummond (1902-1987) no meio do caminho, que é uma outra história e nada tem com o país da impunidade para os ricos.

Grandes jornalistas, na trincheira do extinto Jornal do Brasil, como Fausto Wolff (1940-2008), jornalista corajoso, ficcionista, tradutor, e Ivo Barroso, poeta, ensaísta e grande tradutor, disparavam seus tiros certeiros nas feridas da imoralidade nacional . Que pena que for por um período breve e justamente na época do “Mensalão.”

Enquanto isso, no exterior, a imprensa áulica, politicamente correta, onde o pensamento do articulista é técnico, impessoal, objetivo, sem originalidade e sem independência , sem marca pessoal, sem emoção e muitas vezes informativamente distorcido, só tinha mimos e loas para o Presidente Lula e, ao se referir a ele, o classificavam como Presidente da esquerda. Ora, se Lula nunca leu uma página de Marx, que é obra dificílima, mais citada do que propriamente lida, e “abstrusa” como há muito tempo um combativo jornalista a ela se referiu, como poderia ser um homem de esquerda bem fundamentada? Só se era do tipo de Leonel Brizola (1922-2004) que, seguindo Darci Ribeiro (1922-1997), era mais “ audível,” lia pouco. Aliás, os conceitos de ideologias modernamente se embaralharam e se infiltraram uns nos outros de tal sorte que, hoje em dia, ninguém nunca sabe quem é da direita, da esquerda, do centro, dos extremos. Ideologia que neles não passa de leituras de gabinete e não de exposição às reivindicações do homem da rua, das periferias, dos morros, dos lugares, onde a pobreza se choca com os grandes hotéis onde são hospedados, ou das mansões onde moram, ou dos restaurantes sofisticados que frequentam aqui ou nas ricas capitais da América e da Europa.

O PCB de Luís Carlos Prestes (898-1990), homem sério e bem intencionado, já não é o mesmo e até se desdobrou em PC do B, cujos membros e prosélitos, ao que saiba, não têm lá suas afinidades com o controle do Estado, a falta da liberdade, e um regime de força sinônimo de ditadura do Estado Ora, seus seguidores são, pela usos e costumes de vida, mais para a burguesia capitalista e o neoliberalismo do que para as convicções extemporâneas dos princípios de Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895). São comunistas para uso externo, como bem poderia, se fosse vivo, ter afirmado meu pai, que era defensor de uma democracia social.

Deputados da esquerda ou da direita, se tanto, se distinguem mais por algumas tendências voltadas para a dimensão social, para a causa dos menos favorecidos e isso apenas do ponto de vista teórico. Isso serve só para dar alguma satisfação aos eleitores que ainda acreditam em promessas de políticos.Vejam a vida que levam, os gordos salários que percebem regiamente na Câmara e no Senado.Abrirão mão deles? “Never more” diria o célebre poema de Edgar Allan Poe (1809-1849). Não passam alguns deles dos  burguesões adiposos da ode marioandradiana travestidos de socialistas ou de comunistas, em cuja bandeira partidária tremula esvaziadamente o sentido da foice e do martelo.

O arcabouço político-jurídico é tão complexo e tão cheio de meandros burocráticos e de hierarquias que um membro do Supremo pode expedir uma contra-ordem nas sequência de trabalhos de uma comissão parlamentar de inquérito, constituída para investigar envolvimento ilícito de um senador da República com um conhecido empresário e bicheiro, o Cachoeira. Por que Cachoeira não poderia comparecer agora à convocação dos membros da CPI? Teria foro privilegiado?

Que eu saiba são conhecidas amplamente do público esclarecido as informações que dão evidências suficientes de que o bicheiro tem relações de negócios escusos entre políticos e outros empresários,    não escapando até governadores brasileiros. A própria Polícia Federal, em sucessivas informações liberadas à grande imprensa, mostra diálogos comprometedores de conversas telefônicas entre as partes envolvidas na CPI.

Todos os três poderes só funcionarão plenamente se se  mostrarem isentos, imparciais e desejosos de elaborarem e cumprir a lei e, se no caso uma lei não está surtindo mais efeito, que seja suprimida e  reelaborada uma nova lei para atender a situações que não permitam as chamadas brechas ou sutilezas prontas a serem empregadas para proteger poderosos corruptos. No dia em que o indivíduo rico for para a cadeia como qualquer outro mortal do nosso povão, será possível acreditar num país democrático e livre.

A formação moral integral, como queria um eminente educador português deve ser um ditame imperioso na formação educacional e ética do indivíduo. Convergir nossos políticos, nossos governantes e nossos magistrados para a unanimidade em relação à formação educacional sob os dois pilares - conhecimento e moralidade de conduta - não seria a unanimidade burra de que falava Nelson Rodrigues (1912-1980). .É ainda tempo de mudarem os nosso homens públicos e os nossos líderes. Já se foi a era dos grandes talentos políticos, da alta cultura político-jurídica, dos grandes tribunos, parlamentares, das antigamente chamadas “reservas morais”. Hoje, vivemos a pasmaceira, a mediania,  a ausência de lideranças confiáveis.Em vez da política, a politicalha de que falava Rui Barbosa (1849-1923). As CPIs ilustram esse declínio de valores em extinção.



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