terça-feira, 11 de outubro de 2011

Até que enfim!

Querer minimizar o grupo de manifestantes do movimento de protesto chamado “Ocupem Wall Street” é tentar tapar o sol com a peneira.
Não consigo ir fundo nas minhas memórias e delas retirar alguma manifestação, exceções feitas à Guerra do Vietnã, aos movimentos de igualdade racial, ou mais remotamente, à Grande Depressão de 1929. A visão que, por muito tempo, se teve dos EUA é a de um país capitalista, com maioria protestante e como a terra dos multimilionários, celebridades do mundo dos negócios, do mundo artístico, dos donos das mansões paradisíacas, da sociedade do dinheiro, do consumo estratosféricos.Como dizia, manifestações de protestos de cunho social sobre a política econômica americana, falar de pobreza extrema de cidadão americanos soaria quase como uma fato inventado de mau gosto. É certo que os EUA passaram pelo desassossego trágico do 11 de Setembro, porém este é um acontecimento que foge ao ponto central deste artigo.
Discordo da posição do sociólogo americano Michael Burawoy (Folha de São Paulo,09/10/11), da Universidade de Berkeley (EUA) que não enxerga no grupo de protestos “Ocupem a Wall Street” maior significação com consequências danosas ao capitalismo americano. Prefiro me alinhar às argumentações mais realistas e sensíveis do colunista do New York Times, Paul Krugman(O Globo, 08/10/11), diante dessa gente que, para o citado sociólogo de Berkeley, não passa de protestos de “excluídos,’ não como ele entende, de “explorados”. Por “explorados” quer ele significar indivíduos que têm trabalho, “posição estável,” sem, todavia, se importarem com a inevitável condição de espoliados pelo capitalismo nacional ou transnacional. Convém notar nesta questão dos protestos que até o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, numa palestra no Texas, afirmou serem procedentes os protestos dos manifestantes.
O título do artigo de Krugman é explicitamente ácido e impactante: “Contra os malfeitores.” O lúcido jornalista não poupa os banqueiros ambiciosos, Shylocks da pós-modernidade, do neoliberalismo tentacular. O articulista vai até à raiz da questão crucial entre exploradores, explorados e acrescentaria de minha parte, os “excludentes” de que falou o sociólogo Michael Buravoy.
Para auferirem somas multimilionárias de dinheiro se aproveitaram da chamada “abertura do mercado” – espaço econômico-financeiro no qual se comportam com a liberdade suprema e o direito de tocar investimentos meramente especulativos, que não visam a nenhuma melhoria das condições de vida das populações.Só o que lhes aguça o interesse são os dividendos, “ o quanto deu na Bolsa”, os lucros fáceis e tanto melhores quanto mais altos encontrem fontes de investimentos em países de altos juros que, assim, lhes renderão fábulas de dólares e , em seguida, transferências de lucros para os paraísos fiscais e para seus gastos nababescos com iates, carros milionários, mulheres bonitas e sibaritismo de vida.
Krugman cita todos os atos praticados por banqueiros agiotas sem escrúpulos que em ações seguidas reveladoras do desrespeito à pessoa humana, como foi o caso da famosas tramóias em foram de “bolhas” resultantes de empréstimos suspeitos, com o socorro obtido com o governo federal e igualmente com o aval conseguido com políticos a fim de estes lograssem, junto ao Estado financiador e salvador de bancos quebrados, juros mais baixos e, após passada a crise, novamente se beneficiarem das regulações estatais, ou seja, o estatismo é bom quando o neoliberalismo se dá mal. O Leviatã temido transmuda-se em Papai Noel, ou melhor, em Santa Claus do neoliberalismo global. Que contrassenso e ironia macabra! No final da refrega, esses banqueiros terminam por saírem ilesos e lépidos das negociatas por eles cometidas.
Numa reportagem de meia página, sob o título geral “Turbulência Global”, vê-se o quanto a toda poderosa Wall Street – centro financeiro do capitalismo planetário – não pode mais ocultar a verdade dos fatos sobre a delicada questão econômico-social de parte do povo americano.
Na foto reproduzida no jornal podemos perceber sem esforço o rumo que tomaram os protestos se espalhando por cidades como Washington, Los Angeles, Tampa, Nova Jersey, Filadélfia, Chicago, Houston, Nashville, Seattle, entre outras.
Basta analisar semiologicamente os pôsteres, os cartazes e as fisionomias dos participantes para entendermos que não é tão simples assim o movimento de protestos americanos.Vejam-se algumas frrases para ilustração: “Este nãoç ´pe o futuro que nos prometeram”; “Empregos, nãoç acortes”; “Paz, não guerra”; “Covbrem impostos dos ricos”; “O reinado dos bancos, corporações gan aanciosas”; “Políticos não são mercadoria” etc., etc.
Este é o país do “sonho americano”, “A Terra da Promissão”, o lugar encantado da imigração passada, da clandestinidade a peso de ouro e do fracasso da imigração à custa de vidas humanas.
O momento crítico requer paciência e prudência. Quando os americanos, em diversas cidades importantes, difundiram a onda de protestos é sinal de que imperativo se torna uma busca urgente para reduzir esse desgaste.
Qual seria a relação, pergunto, em ter as manifestações dos povos árabes pela liberdade e governos democráticos e esse sinal não desprezível de americanos descontentes com um longo tempo de silêncio voluntário ou de alienação conveniente a cada cidadão o americano?
Existem pontos comuns entre as duas situações evidentemente. Há uma frase que se está tornando um slogan: “O tempo das ditaduras acabou”, frase que foi proferida pelo ex-presidente Bush pai no tempo da Guerra do Golfo. Para a conjuntura americana atual,, a frase corresponderia : “Basta de tanta protelação com respeito ao sistema financeiro americano.”
Os manifestantes da “Ocupe m a Wall Street” parecem ressoar semelhantes protestos próprios de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, i.e., na América Latina, na América do Sul, no Caribe, em países africanos etc., etc.
Uma questão fulcral se impõe a um debate sério e profundo: o modelo neoliberal globalizado já deu farta demonstração de que é imperfeito e injusto, além de lesivo ao bem-estar dos povos. Há que se transformar em alguns pontos-chave, o primeiro dos quais seria a moralização da vida econõmico-financeira dos países que já passaram por amargas experiências (e ainda estão, como na Grécia). Sem mudar o comportamento ético daqueles que lidam com as finanças nacionais, será cada vez mais impossível de lidar com os sistemas de moedas, a riqueza natural, os bens da Natureza, o meio-ambiente global, o exagero da produção industrial-tecnológica em seu afã de mais e mais servir ao consumismo internacional, numa espécie de guerra entre mercados sem que haja um equilíbrio necessário entre compra e venda, moeda e câmbio, a questão dos juros. Sobretudo, atacando com virulência o mal do novo tempo: produzir riqueza proveniente do trabalho, da indústria e do comércio, do setor de serviços, e reduzir o tipo mais pernicioso de riqueza: a de ganhar dinheiro sem o suor do trabalho mas às expensas da agiotagem nacional e internacional.
Esta suposta riqueza sem finalidades de desenvolver os países pobres e miseráveis não é senão um câncer maligno que deve ser extirpado do mundo dos negócios no país e entre países. Esta falaciosa riqueza só traz vantagens aos investidores de papéis podres.
A continuarem em suas investidas de ganhos fabulosos conquistados nas especulações oportunistas e insensíveis do hiper-individualismo mercantilista, os senhores do big business globalizado só irão provocar novos protestos da humanidade que, com justiça se volta contra a opressão da pobreza, do desemprego, da falta de perspectivas de vidas dignas. Os regimes políticos,, as formas de governos, os sistemas políticos que se acautelem, aqui e alhures.

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