quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Kaddaffi nos estertores



Cunha e Silva Filho


Nunca concordei com as posições políticas de Bush pai, mas me recordo de uma afirmação que dele ouvi pela TV que tem lá um dose de visão política positiva pelo menos no seu conceito de reprovação a países que ainda mantêm governos ditatoriais: “A era das ditaduras já passou!.” Fora uma afirmação do presidente Bush pai. Bush referia-se, naquela época, à queda da ditadura de Stroessner, no Paraguai.
O tema da ditadura tinha sido então me rendido uma breve crônica “Meditações sobre a ditadura,” que se encontra no meu livro As ideias no tempo (Gráfica do Senado/Academia Piauiense de Letras, 2010, p. 238-239) em que deblatero as ignomínias causadas por qualquer regime de força que se implante no mundo. E observe-se que o nosso planeta ainda vivia e tinha inúmeros “modelos” de ditaduras em vigor, muitas das quais intocáveis pelas nações civilizadas que lideravam a política no Ocidente e no Oriente e, portanto, tinham muito forte influência ou interesses econômico e geopolítico pelos regimes de força que elas mesmas contraditoriamente reprovavam, como seriam um exemplo típico os EUA.
O que, em verdade, se pode ressaltar como ganho político a esta altura do início da segunda década do terceiro milênio é o quadro da realidade da chamada “Revolução Árabe”, ou também “Primavera Árabe” compreendendo o período entre 2010 e 2010, seguramente um ciclo de transformações que já está sinalizando para significativas mudanças de rumos nos destinos da sociedade civil ou em gestação de ser assim denominada. Por isso, agora de forma mais distanciada, já é possível ter-se a perspectiva de novos governos que, através de grupos rebeldes de oposição a regimes autoritários há décadas implantadas em terras árabes, os casos do Egito, da Síria, da Tunísia, e do da Líbia, entre outros.
Analistas políticos já acentuaram ter sido esse fenômeno de explosão de rebeldia uma reação mais do que natural do que já se podia esperar, diante da ultrapassagem da indignação humana na consciência lúcida desses povos. Os protestos aguerridos, seguidos da luta armada de guerrilheiros, de grupos de oposição ao regime dos tiranos, se manifestaram num crescendo de fúria e indignação onde os céus árabe ou africano não seriam o obstáculo único e solitário, porquanto eles estariam transpondo outros paradigmas de vida e de respeito à vontade própria de cada pessoa.
O insulamento do mundo árabe não ficaria mais para as calendas das gregas. O mundo globalizou-se para o bem ou para o mal e, se ao bem tocasse a parte mais libertadora, as ideias de nações democráticas forçosamente entrariam em circuito pelo mundo afora, sobretudo com a maciça propagação das redes sociais. Ideais de justiça social, de conquistas de direitos e de capacidade de poder contestar livremente, sem as peias das tiranias, começaram a vicejar em países muçulmanos. Os direitos à vida, ao trabalho, à vontade própria, à escolha de seus representantes nos governos, ao voto democrático seriam verdadeiros ímãs atraindo povos de formações diversas, de costumes díspares e de consciência política distante do conceito de democracia haurido nas fontes gregas da Atenas Clássica.
Kaddaffi está sendo procurado. Seu fim chegou. “Não há mal que dure sempre.” O fim dos déspotas parece significar a moira das tragédias gregas, ou o fatum (destino) dos romanos. .Todos os ditadores, por se parecerem tanto, ainda têm a condição do rebaixamento, que é o riso da comédia, ou melhor, da farsa. Farsantes, como todos, terminam seus dias no esquecimento, ou punidos exemplarmente pelos homens com a perda da vida pontuada que foi pelo desrespeito à dignidade do ser humano. A tragédia, infelizmente, nestas histórias de facínoras do poder discricionário, não está ainda encerrada. Faltam alguns personagens. Adivinhem quem será o próximo?

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