sexta-feira, 6 de maio de 2011

Osama bin Laden: os enigmas de um morto

Cunha e Silva Filho


Sendo filho da família mais rica da Arábia Saudita no ramo da construção civil, ele é o 17º de um número de 50 irmãos. Osama preferiu a vida aventureira e arriscada, inerente a quem desde cedo se aliou à guerrilha jihadista. Poucos sabem, todavia, em que medida desfrutou, quando muito jovem, das benesses e confortos do império financeiro do pai. Sabe-se que estudou numa escola laica para gente abastada e que frequentou a Universidade King AbdulAziz, graduando-se em Administração.
Bin Laden tanto foi execrado pelos americanos após o fatídico 11 de setembro de 2001 quanto se tornou uma personalidade negativamente emblemática no mundo inteiro, malgrado para alguns seguidores tenha sido um homem que lutou por seus princípios contra sobretudo a visão política como sinônimo de império do Mal.
Bin Laden protagonizava vários níveis simbólicos: o da ambiguidade, o do mistério, o da excentricidade, o do humor, o da carnavalização( aqui, no país, o seu rosto, no carnaval, tornou-se máscara usada por foliões), De certa maneira, mitificou-se no imaginário popular, ainda que para fins de deboche. Sua figura tem algo de traços pós-modernos se vistos por este ângulo. Sua imagem em vida mostrada pela TV lembra figuras do tempo do Velho Testamento, especialmente quando, carregando um cajado, caminha compassadamente pelas montanhas do Afeganistão. Só não se torna bíblica porque é maculada pelo porte de armas ou às vezes disparando tiros provavelmente em treinamentos. Seus olhos não exibem rispidez, mas expressam certa suavidade. Sua figura, portanto, resume insondáveis contrastes entre ela e as ações por ele praticadas.
Considerado pelos EUA o mais procurado terrorista do mundo, país que, desde logo, lhe atribuiu o plano de desafiar a maior potência bélica mundial, cujos alvos foram, como toda gente sabe, as duas Torres Gêmeas, em Nova Iorque, e o Pentágono, em Washington, Bin Laden se tornou o inimigo nº 1 do povo americano e figura detestada por outras nacionalidades, sobretudo ocidentais. Até hoje, contudo, não se sabe ao certo se as tragédias, cuja autoria se lhe imputou, foram de sua responsabilidade. Não há evidências cabais e insofismáveis sobre isso. É bem provável que muitos atos terroristas não tenham sido executados por ordem dele. Por ser o mais odiado terrorista do mundo, virou uma espécie de scapegoat dos americanos.
George Bush filho, em cujo segundo mandato, ocorreram aqueles atos terroristas, não deu trégua a Bin Laden, e só Deus sabe o ódio que lhe devotou a partir daquela data sinistra que foi o 11 de setembro, local hoje chamado “Marco Zero”. Bush acelerou o processo de vingança contra o terrorismo internacional sem dó nem piedade, a começar da invasão genocida no Iraque. O doidivanas presidente não sossegou enquanto não visse enforcado o ditador Saddam Hussein.
O ódio de alguns povos árabes recrudesceu contra os americanos. O terrorismo cresceu, se espalhou, instituiu-se à sua maneira sob a liderança de Bin Laden com a formação da rede Al-Qaeda, termo árabe que significa “A Base”.
Desde os anos 70, Osama virou figura pública mundial quando a União Soviética , em 1979, invadiu o Afeganistão. Bin Laden, então, comandou insurgentes contra aquela invasão. De 1988 ao final de 1989, o chefe terrorista logrou dar pujança à organização Al-Qaeda.
De então para adiante, seu alvo preferido, segundo se relata, foram os Estados Unidos e as suas embaixadas situadas na Arábia Saudita, Egito, Quênia e Tanzânia. Seus ataques provocaram dezenas de vitimas nas regiões citadas, inclusive de turistas.
Nesses dez anos após a tragédia de Nova Iorque e de Washington, o terrorista passou a ser um animal caçado pelos órgãos de inteligência americanos (CIA e outros órgãos de segurança, de espionagem). Refugiara-se em lugares diversos e com frequência. Pistas concretas sobre o seu paradeiro se tornaram difíceis de encontrar. Anunciaram recompensas polpudas para quem o localizasse. Estaria talvez em regiões montanhosas do Afeganistão ou sabe Deus onde. O homem sumira como fumaça.
Bush filho concluiu o segundo mandato com baixíssima popularidade, principalmente devido ao fiasco na desnecessária e cruel guerra no Iraque e com as suas tropas aquarteladas no Afeganistão combatendo os talibãs, com quem Bin Laden tinha ligações. Rios de dólares foram liberados pelo Congresso americano satisfazendo a insânia e a paranóia do Bush filho. Tais gastanças do Tesouro americano – não se pode negar - muito contribuíram para debilitar as finanças estadunidenses, mergulhando o país, a Europa e parte do mundo na recessão com consequências até hoje. 2008.
Barack Obama assumiu a Presidência dos EUA. Promessas de mudanças se fizeram no discurso de posse, inclusive a da retirada das tropas americanas do Afeganistão. Guantánamo ainda é uma ignomínia.
Inopinadamente, com uma popularidade baixa, o atual presidente americano anunciou a morte de Osama Bin Laden. Tento melhor e mais oportuno não haveria diante do descontentamento do povo ianque em face do seu governo.
Os americanos recuperaram as energias de patriotismo e de crença em melhores dias para a paz dos EUA. Houve manifestações de alegrias pelo fim de Osama, o grande matador. Obama quase vira herói. Contudo, a história não termina aí. Especulações pipocaram na imprensa internacional. E por todos os meios de comunicação de massa, inclusive os virtuais, as redes sociais na Internet. Teria mesmo morrido o terrorista ou isso foi um factóide para revigorar a queda de popularidade de Obama? Quem sabe ao certo?
A imprensa, controvertida, ainda afirma que Bin Laden já tinha morrido em 2001, vítima de hepatite C. Entretanto, nas fotos surgidas nos jornais e revistas, na TV e na Internet o terrorista aparece com dois ou três rostos: o normal e os outros dois deformado pelos tiros que o atingiram no rosto. Falou-se também de montagens. Mais mistérios rondam-lhe a morte.
As autoridades americanas declaram que seu corpo , vestido de branco segundo os costumes muçulmanos, foi arremessado ao mar. Teria sido uma homenagem concedida pelos militares que o mataram?
Há muita contradição entre declarações oficiais e informações da imprensa mundial. Existe mesmo um dado nada favorável à política externa americana O governo Obama teria agido, por conta própria, para chegar ao paradeiro de Obama, uma mansão situada ao lado – vejam! – de uma Academia Militar do Paquistão. A localização do esconderijo do terrorista teria sido conseguida graças a abomináveis métodos de tortura contra um prisioneiro em Guantánamo, o qual levaria, através de um mensageiro, as informações arrancadas à força a fim de localizar Osama. Como o governo americano vai justificar esses atos de barbárie para lograr confissões? E os tão alardeados direitos humanos por setores dos EUA?
A invasão da mansão por fuzileiros navais americanos vindos de helicópteros terá sido ilegal por não respeitar a soberania de um país e nem consultar a ONU. Tudo se fez na calada da noite.
Até um facínora merece ser julgado e a Osama não se concedeu esse direito. Os EUA não agiram sob a égide de seus princípios democráticos tão apregoados por ilustres figuras da história americana. Erraram mais uma vez diante dos olhos do mundo. Por sua vez, Bin Laden errou pela opção funesta do terrorismo. Sua decisão de ter sido o que foi guarda enigmas que dificilmente chegaremos a desvendar. Um país cometeu erros gravíssimos no passado e os comete ainda no presente. Um homem cometeu erros gravíssimos pela prática infame do terrorismo que covardemente mata inocentes. Mas uma pergunta fica no ar. Quem está com a verdade?

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