quinta-feira, 21 de abril de 2011

Só estavam esperando a vitória de Dilma Rousseff

Cunha e Silva Filho


Até o último dia de Lula na Presidência, nada se contava sobre a situação financeira do Brasil. A economia andava às mil maravilhas, tudo era motivo de festa e de deslumbramento ( não confundir com o “alumbramento” bandeiriano) a pequena burguesia corria pressurosa aos shoppings, às compras de toda espécie. Mesmo os jornais de maior projeção nacional pareciam solidarizar-se com o silêncio das verdades relativas à economia, com o que estava debaixo dos panos, ou do tapete ( que não podia tirar de ninguém, muito menos do intocável Lula) ou dos bastidores da “copa e cozinha” áulico-plalaciana. Nenhum pio, ou tudo botava o barco da vitória a perder. “ A Vida é bela” – este deveria ser o lema daquela fase da campanha à sucessão presidencial.. O embuste era preciso.
Veio a eleição. Veio a vitória. Veio a verdade da quotidiano da vida brasileira. Lula não continuaria a dizer: “Vão às compras! Comprem, comprem, comprem, que o país é de vocês”. A classe média obedeceu literalmente, ate o povão cuja aspiração maior deve ser pelo menos passar de uma letra pra a outra em termos de classe social. Eram compras e mais compras: cartões de crédito, empréstimos, agiotas, o escambau!”
Este o país antes do último dia da campanha petista -multipartidária. Ora, com exceção do tucanato, que também faz das suas, quase todos os candidatos citavam Lula como o maior cabo eleitoral que este país já teve, homem respeitado no exterior, até por pensadores de renome. “Lula é da esquerda”, proclamou um desses pensadores. Ora, nunca Lula foi de esquerda, principalmente porque nem leu uma página sequer de Marx, nem é homem dado a leituras difíceis, talvez nem às simples. Não poderia ser da esquerda quem deu tanto lucros ao grande capital, inclusive o vice dele era conhecido capitalista.
A posse de Dilma Rousseff. Os aplausos, os choros de emoção do petismo. A glória de um novo raiar, um sol mais límpido. Nada de nuvens escuras, nada de tormentas. Só bonança. Primeira mulher a presidir os destinos da pátria amada. Presidente ou Presidenta? Consultem o Bechara, que é mais seguro.
Houve a formação do Ministério da novel Presidente. Os ministros foram empossados. Alguns permaneceram, outros saíram. O ano de 2011 mal se espreguiçava, parecendo não querer despertar e sair do leito ainda com o cheiro do silêncio e o ufanismo lulista.
Abro o jornal, ligo a televisão, pequenas notícias alusivas a problemas de inflação, de alta de juros, da questão de câmbio começam a aflorar, em doses homeopáticas. São noticias sobre economia e situação das finanças brasileiras que vão dando sinais contrastantes do último dia do Lula. Ainda ouço algumas frases dele ecoando em todos os cantos do país: “Nunca um país teve um presidente tão...” Este tipo de frase virou um bordão, até em programas humorísticos. São frases de efeito típicas do populismo tão ainda entranhado entre nós e que ainda faz as alegrias do populacho.
À medida que os dias dos primeiros meses deste ano vão virando na folhinha, a gente começa a sentir que a atmosfera não é tão alvissareira como se pensava. A crise mundial europeia, a partir de 2008, a aguda situação econômico-financeira dos EUA, os conflitos bélicos em países árabes, a presença chinesa no mercado internacional, a grande tragédia japonesa, tudo isso vai alterando a temperatura do mundo da economia globalizada, com reflexos negativos e perniciosos que se alastram como epidemias.
Antes, nossos ministros das áreas econômica e financeira pareciam estar imunes aos vendavais da crise financeira europeia, crise mais provocada pela ambição desmedida de especuladores do setores bancários, conforme foi tão lucidamente analisada pelo colunista Rubens Ricupero na Folha de São Paulo do último domingo. A miséria de nossa situação pessoal, no que tange à situação financeira de cada um de nós, é provocada por desonestos e ambiciosos financistas que só pensam nas regalias e na suntuosidade de suas vidas vividas em meio à miséria dos povos.
Voltando ao Brasil, o que entre nós se deu entre o paraíso exibido pelo governo de Lula e o que se está vendo agora mesmo foi uma espécie de trégua de estado de bem-estar e de segurança financeira e econômica, que não era real, mas aparente e eleitoreira, já indiciadas pelas novidades – não favoráveis – das primeiras modificações ocorridas no atual governo federal. A princípio, tudo faz crer que aquele estado de delícias de governo não era assim tão verdadeiro, mas o seu desvelamento, nos arraiais da economia nacional poderia ocasionar fragorosa derrota eleitoral, não permitindo que o lulismo desse continuidade, alcançando mais quatro anos ou, quem sabe, mais oito anos no poder, perfazendo, assim, dezesseis anos de domínio político, o que nada é bom para o país nem para a democracia, cujo corpo vivo necessita de alternância de poder, de preferência, em períodos de curta duração.
Lembram-se do dilúvio de concursos públicos durante o segundo mandato do Lula? Do incentivo ao consumismo? Dos gastos milionários em todos os setores do governo, inclusive cartões para funcionários do alto escalão? Do “Escândalo do Mensalão”, até hoje sem a punição exemplar dos grandes culpados? Da omissão do Presidente Lula a tudo isso? Dos gastos astronômicos do governo em campanhas nas eleições? Ao povo foi permitido saber a verdade de todos esses fatos que envergonham o país?
Do silêncio da verdade entre o período da campanha ao estado de coisas do presente há uma profunda lacuna, e é esta lacuna, a do silêncio e do engodo, que me inquieta e me indigna.

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