segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Saudades da Cesgranrio

Cunha e Silva Filho



Hoje, passando por uma banca de jornal, vi, com espanto, na página de rosto de um exemplar de um jornal carioca, uma manchete que me assustou : “Alunos que fizeram prova do ENEM dão nota zero ao MEC”. Ora, com os constantes disparates dos responsáveis pela preparação das provas, o Inep, órgão do próprio Ministério da Educação, cometidos, se não me engano, desde, pelo menos, o ano passado, fica difícil a situação do Ministério de Educação.
Primeiro, os alunos concorrentes se queixaram, com justiça e por direito, dos quiproquós ( que até parecem uma comédia shakesperiana) da prova no que respeita à marcação das opções nos cadernos correspondentes às matérias. Os fiscais, tendo recebido as reclamações dos estudantes, vieram, então, por ordem dos responsáveis, dirimir as dúvidas e explicar como os alunos deveriam proceder na marcação das respostas. Logo, em seguida, houve nova contra-ordem, e, assim, o caos se instalou
. Na TV, o responsável pela organização do certame veio a público acrescentar novos esclarecimentos e reforçar um pedido aos estudantes solicitando, meio desengonçado e titubeante, que se prejudicados, encaminhassem, via internet, na emana seguinte à primeira prova, suas dúvidas relativas ao exame Mais uma vez, fico perplexo com a posição do organizador do concurso e me pergunto o que faz agora o MEC que não me parece ter reconhecido os desacertos, as confusões diante de fatos que só vêm prejudicar a vida dos jovens aspirantes às universidades após um ano de canseiras e de sacrifícios financeiros e intelectuais.
O MEC, um órgão federal que merece todo o meu respeito, não pode dar exemplo de incompetência precisamente nos tempos atuais onde a tecnologia se encontra bem avançada no trabalho de impressão com perfeição e rapidez sem precedente.
Estamos retrocedendo? Nem na época dos concursos vestibulares feitos sob a responsabilidade da Fundação Cesgranrio, sobretudo quando era seu presidente o Carlos Alberto Serpa de Oliveira houve tanta desorganização.Muito ao contrário. Esta fundação tinha a sua própria gráfica e, além disso, durante bom tempo, publicava um excelente revista chamada Contato, que conheceu vários números nas áreas de português, educação, inglês e estudos socais, a cargo de um competentíssimo corpo responsável. Publicação que tanto ajudou a professores, alunos secundários e universitários. Dela guardo comigo alguns exemplares. Isso apenas é para mostrar o contraste entre a competência daquela época, anos oitenta, na preparação e organização dos vestibulares e o ENEM que está aí atordoando e confundindo os candidatos ao ensino superior.
Não tenho certeza, mas é bem provável que o ENEM tenha sido inspirado no sistema americano de seleção para ingresso na universidade. Só que nos Estados Unidos, a seleção acontece mesmo antes de o estudante concluir o senior high school (equivalente ao nosso ensino médio) ou seja, quando ainda estão no junior high school (equivalente ao nosso ensino fundamental) Esse exame se chama lá SAT (sigla para Scholastic Aptitude Test). As escolas, em que estão os alunos, após realizarem aquele tipo de exame, enviam os resultados a faculdades da escolha dos alunos. Na avaliação entram diversos componentes, a aptidão do discente em habilidades verbais, numéricas e analíticas. Se aceitos, o aluno já fica sabendo em que faculdade irá cursar o ensino superior. Há também universidades que exigem um outro tipo de SAT, denominado achievement test, que consiste em avaliar o candidato através de algumas disciplinas específicas: matemática, física, química, biologia etc. Uma universidade pode ainda exigir um histórico escolar, onde se vê o desempenho em notas do estudante.
Os estudantes brasileiros não podem ser vítimas da inoperância do órgão que zela pela organização do ENEM e dele cuida. Providências devem ser tomadas urgentemente pelo Ministro da Educação atual sob pena de o exame em vigor cair no descrédito dos milhares de alunos que nele procuram, esperançosos, o caminho de sua futura vida profissional, o seu destino e a sua integração na sociedade. Não podemos negar-lhes isso, sobretudo nessa fase decisiva da juventude. Aguardamos com urgência urgentíssima - urge acentuar -, a solução desse impasse pelas autoridades do MEC.

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