quinta-feira, 1 de abril de 2010

O que o brasileiro deseja para seus filhos

O que o brasileiro deseja para seus filhos

Cunha e Silva Filho


Não é difícil de responder a este tema. Precisa de ser feliz. A palavra felicidade tem muitas direções e cada uma se ocupa de uma fração da felicidade. Sejamos, porém, práticos e vejamos o que faria feliz um brasileiro, um cidadão deste país de tanta beleza e ainda de tantos graves problemas, sobretudo o moral, de difícil solução imediata. Entendo que a moralidade, como a ética, se constrói e sua raiz principal, raiz-mater há que se buscar em dois flancos da vida humana: na família e na educação.
Ninguém pode negar que a sociedade brasileira contemporânea enfrenta sérios percalços de ordem familiar, a começar das camadas mais humildes da população, nas quais inexiste o núcleo familiar: filhos vivem com a mãe, ou com o pai, sendo, pois, ambos separados na convivência e no amor. Outras vezes, nem vivem com os pais, mas nas ruas.
Por outro lado, a família das classes média ou alta se têm pais casados ou separados, na prática muitas vezes em nenhum dos dois casos funciona. Na luta pela sobrevivência e até ambição desmedida, os pais, consciente ou inconscientemente, negligenciam a formação ética e educacional dos filhos, quer dizer, os filhos dispõem de todas as regalias da sociedade de consumo e, ao fim de sua formação físico-picológica, não se dão conta de que a eles faltou algo sumamente relevante que deveriam receber de seus pais afeto, amor, real interesse pelo seu bem-estar, pelas suas aspirações. Nos lares dos excluídos, a família se desagregou, com poucos números que comporiam as exceções.
Tanto os excluídos de qualquer proteção material quanto os incluídos nas benesses de uma vida confortável, por razões que ainda não foram suficientemente pesquisadas, se tornam presas dessa malignidade dos tempos atuais: as drogas. É nesse ponto de exaustão de procedimentos conducentes às tentativas de solução ou melhoria do mal da droga que entram em jogo o concurso dos meios de segurança pública e a escola. Há escolas e escolas. Escolas que funcionam dando boa formação intelectual e cívica e escolas nas quais apenas se cumprem - rotineiramente - princípios burocráticos do sistema de educação. A escola pública burocratizada é um dos maiores males da educação pública brasileira. São de pouco valor essas últimas, pois nada acrescentam à formação da juventude não só pela via do conhecimento mas também pelo caminho da formação cívica, pela internalização de práticas pedagógicas para a vida social equilibrada e sedimentada em valores humanísticos. A inclusão da disciplina filosofia no ensino médio se podia estender para, em aulas dosadas à compreensão do início da adolescência, as duas últimas séries do ensino fundamental, a 8ª e a 9ª.
É preciso que à criança e aos adolescentes, das faixas etárias dos 12 aos 14 anos se deem esmerada orientação para a vida, que até poderia se transformar numa disciplina não-eliminatória, com aulas agradáveis mostrando ao educando o que seria o caminho da dignidade e o da perdição.Lembro-me de que Olavo Bilac que, no campo do civismo, prestou enorme serviço à pátria, via as séries do antigo ginásio como um período fundamental da formação intelectual-moral do estudante. Dever-se-iam, em forma de antologia, reunir algumas conferências desse escritor, cuja atualidade intrínseca da mensagem seria de grande proveito aos alunos brasileiros.
A disciplina que eu chamei atrás de Orientação para a Vida não seria nos moldes da antiga Educação, Moral e Cívica, que foi implantada no período discricionário dos governos militares. Seria, antes, uma disciplina cujo corpus consistisse de informais palestras sem preconceitos com alguns tabus ainda arraigados à nossa visão deformada para enfrentar os desafios dos tempos pós-modernos. Seria uma área de atuação que priorizaria valores humanos imprescindíveis à formação de um cidadão responsável e consciente de seus direitos e obrigações, que fosse desconstruindo velhos preconceitos que só conduzem à cizânia entre indivíduos e sociedades. Desde a infância, passando pelo período da alfabetização efetiva do aluno, os professores já disporão de instrumentos para instilarem sementes de exemplos de brasileiros ou mesmo estrangeiros, que, pela boa educação que tiveram e pela orientação sadia que receberam da família, se tornaram figuras de alta reserva moral e cultural do país e do exterior, realizando feitos e ações nobres nos vários campos da atividade humana que só trouxeram ao país desenvolvimento e bem-estar coletivo. Mas, é preciso saber quem são essa figuras que mereceriam todo o nosso reconhecimento pelo que fizeram em benefício da posteridade.
Na década de quarenta, havia conteúdos de livros didáticos, por exemplo, em francês e inglês, que encerravam temas intimamente relacionados à formação cultural do aluno e ao conhecimento do país através de abordagens e temas que punham em prática o que venho propondo neste artigo. É só conferir. A modernidade pensou primeiro em ser apenas moderna, atual, pautada no avanço científico-tecnológico, e se esqueceu do essencial, ou melhor, da essência do ser, que é voltar-se para o aprimoramento moral do indivíduo.
Livrar o filho das drogas, do tráfico, dos ambientes esconsos e de risco cumpre aos pais e aos órgãos públicos de proteção ao jovem como sua mais alta e nobre tarefa social. O público e o privado devem dar-se as mãos, e com mãos limpas. Não com passeatas inócuas pela paz ou outras questões muito ao gosto da burguesia nossa, mas pelo deslanchar das ações imediatas, urgentíssimas, repensando o que agora se poderia fazer, esquecendo diferenças sociais, religiosas e ideológicas e pensando-se no bem comum, nesse patrimônio da Nação que não se pode perder, que são nosso jovens das favelas, dos palacetes, das ruas, da cidades e do interior, onde crescem assustadoramente a violência, o crime e a ausência de perspectivas para o futuro de cada um deles, sobretudo dos desfavorecidos e brutalizados pelos tempos que correm.

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