quinta-feira, 8 de abril de 2010

Da fragilidade da Cidade Maravilhosa

Da fragilidade da Cidade Maravilhosa


Cunha e Silva Filho


Em bem menos de uma semana, o estado do Rio de Janeiro já registra quase cento e cinquenta mortos vítimas da chuvarada que sobre ele se abateu sem piedade. As chuvas se distribuíram entre a capital e algumas cidades do estado como Niterói, Petrópolis, Nilópolis, região do lagos e algumas outras áreas metropolitanas. Há, no entanto, uma singularidade nesta tragédia sofrida pelo povo fluminense. A violência das águas, provocando inundações, deslizamentos de terra e consequente desmoronamento de moradias, começa a atingir também casas de luxo situadas, por exemplo, no Alto da Boa Vista.
Deslocando-se o foco de nossa atenção para a cidade do Rio de Janeiro, constatamos que as inundações alcançaram a cidade de forma inteira, desta vez sofreram o velho centro da acidade, a zona norte, a zona sul, o subúrbio, a zona oeste, tudo inundou. É claro que as moradias nas encostas dos morros são mais drasticamente castigadas, já que as construções são mais frágeis e seus alicerces não suportam as avalanches de terra, lama e rochas que, encosta abaixo, vão derruindo tudo o que encontram pela frente. As lágrimas dos sobreviventes pouco consolam as perdas dos entes queridos. A tragédia não é só de perdas de vidas, que é a sua forma mais pungente e dolorosa. A tragédia também é de deixar milhares de pessoas desabrigadas, muitas vezes apenas com a roupa do corpo. Tudo foi despedaçado pelas águas: móveis, alimentos, agasalhos, enfim, tudo que se conseguiu com sacrifício em anos de trabalho e de luta.
São tantos os lugares da tragédia que nem a defesa civil nem o corpo de bombeiros têm dado conta dos chamados para resgate de sobreviventes e recolhimento dos corpos soterrados pelos desmoronamentos de terras sobre as moradias populares. Cenas há tão desesperadoras como naqueles lugares afastados em que filhos procuram cavar, no meio dos escombros, algum ponto no qual possam localizar seus pais . As cenas são desoladoras e mais parecem aquelas destruições provocadas por terremotos.
A quem cabe responsabilizar por todas essas perdas humanas , por todas essas perdas materiais? A natureza inclemente? Não, certamente.
A ocupação do solo urbano carioca dá uma impressão de que a cidade foi surgindo, desde os tempos coloniais, a partir de improvisações de governantes incompetentes e omissos. Vejam-se as favelas cariocas, que cresceram assustadoramente nos últimos cinquenta anos. Tivemos poucos bons governadores e prefeitos. A omissão dos governantes que passaram pela cidade do Rio de Janeiro é flagrante em vários setores vitais educação, saúde, segurança pública, transporte de massa.
As dezenas de vidas perdidas por desmoronamento nos morros são resultado da ausência de ações públicas que não impediram a ocupação do solo em lugares de alto risco, como são as formações de favelas, para as quais migram populações desfavorecidas da sociedade, principalmente vindas do Nordeste
A topografia do Rio de Janeiro, de beleza exuberante, sobretudo pelo contraste entre o espaço urbanizado do asfalto e a vizinhança dos morros, das montanhas, nos mostra que a cidade edificada facilmente fica vulnerável às enxurradas, ao aguaceiro que vem dos morros ocupados por favelas, por construções improvisadas que destrocem a vegetação do solo, deterioram o solo maltratado pelas construções, por alicerces que não respeitam as condições do terreno nas elevações. Do alto do s morros o Rio é um buraco, mas um buraco cheio de beleza e fascinação. Embaixo, no asfalto, bueiros entupidos pela sujeira acumulada nas ruas concorrem para que as águas da chuva não fluam ordenadamente. Além disso, a cidade é cortada por muitos rios, canais que, com chuvas torrenciais, transbordam e espalham suas águas barrentas e enlameadas pelas ruas em várias direções, causando as costumeiras inundações na cidade. São muitos os fatores que, somados, resultam nos transtornos dos alagamentos, sobretudo em pontos já conhecidos do povo e das autoridades.
Ao contrário de outras cidades do mundo que se preparam para situações de riscos, como inundações ou outros desastres naturais, o Rio não se modernizou em obras de infraestrutura de ponta, por exemplo, se utilizando dos recurso e possibilidades propiciados pela engenharia brasileira.Temos pessoal competente nas universidades nossas que poderiam implementar obras de grande porte a fim de melhorar consideravelmente os problemas trazidos pelas inundações. Nosso povo tem um péssimo defeito, que é o de só procurar solucionar problemas críticos quando as desgraças acontecem. Não há senso de previdência, de visão antecipadora para problemas em situações de emergência.
As ações de nossos governantes só vêm a muito custo, apenas quando a tragédia já ocorreu. Faltam-nos governantes capazes e dotados de integridade moral e de vontade política dirigida principalmente ao bem coletivo. Se o habitante do Rio de Janeiro se encontra até hoje refém das águas pluviais, não é absolutamente porque as chuvas são excessivas, como declarou o prefeito atual do Rio.. Não se culpe a natureza pela nossa tragédia. Culpe-se a incompetência dos governantes, culpe-se a falta de educação de quem mora no Rio, que não cuida bem da cidade, espalhando sujeira e lixo por todo lado. Não vemos isso em Curitiba e em outras cidades brasileiras, que ainda são limpas e organizadas. Imitemos o que é bom e sadio para a bela cidade de São Sebastião.

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