quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Há algo errado no Planeta Terra

Há algo errado com o Planeta Terra


Cunha e Silva Filho


É preciso recorrer aos bons espíritos, aos orixás, às rezas, às orações, jamais porém, aos vodus, esses, já se sabe, não trazem felicidade ao solo haitiano. Se possível, seria o caso de se chamar com urgência um padre exorcista para desdemonizar o Haiti e o próprio sofrido, sugado e exaurido Planeta Terra.
Afastemo-nos dos maus espíritos com água benta, crucifixo e muitas preces ou orações. Não estou gostando deste início de ano. Como católico não praticante, está na hora de benzer a Terra. Não vai aqui nenhuma piada de mau gosto. É necessário mesmo benzer nosso planeta. Até em nosso país se tem notícia de tremor de terra. Não, a notícia na TV falou de terremoto no Rio Grande do Norte com certa repercussão de sinais em Pernambuco e na Paraíba. Dá até pra pensar que o mundo inteiro não está imune a sismos e outras catástrofes. Já falei alhures que a Natureza-Mãe está dando o troco a todos nós que dela não estamos cuidando bem. Veja as águas, com as inundações mortais, os furacões com sua trilha de destruição, as geleiras dando mostras de derretimento, as mudanças drásticas climáticas como nunca foram sobre a face da Terra. Temos todos os sinais de alerta.
Agora, é tempo de defender nosso planeta com unhas e dentes numa mobilização em escala mundial, não dando trégua a quem o maltrata sobretudo com fins de ambição de lucros estratosféricos visados por países que só pensam no hic et nunc.
No entanto, sempre me ensinaram na escola que o Brasil não tem vulcões nem terremotos. Temos, sim, tremores de terra, mas não abalos sísmicos da estatura de um terremoto.
Mas, para compensar temos corrupção desenfreada, violência em proporções alarmantes, desmoralização de nossas instituições públicas. Temos o carnaval, o futebol, mulheres lindas - grandes amortecedores da insânia coletiva. Por isso, os governantes dão tanto apoio financeiro e publicitário a esses segmentos da vida social. A frase de Tristão definindo o futebol como o “grande catalizador”, para mim, está superada diante do quadro assaz repetido da violência em que se transformaram as chamadas torcidas, parte das quais se comportam como delinquentes, vândalos, assassinos e fanáticos prontos a qualquer tipo de reação violenta contra torcedores opostos. O que pensariam deles grandes torcedores do nosso meio cultural e amantes do futebol, como Nelson Rodrigues, João Saldanha, escritores como Marques Rebelo, José Lins do Rego, entre tantos e tantos outros torcedores que amavam o fair play dos grandes jogos da história do futebol brasileiro e internacional?Hoje, dia de jogo é dia de apreensão e de medo para os que saem às ruas. Daí tanto aparato policial. E o pior é que esse comportamento antissocial não se restringe ao Brasil. Temos visto o mesmo filme na Inglaterra e em outros países. Costumo dizer que só mudam a língua e o país. O ser humano dito civilizado é o mesmo nos sentimentos e nas reações violentas.
Temos ainda a natureza exuberante, recurso naturais, diversidade climática, todos os níveis sociais que vão da extrema riqueza até à linha mais baixa da pobreza. País de contrastes, do “homem cordial” “país do futuro’, terra do samba e de todos os ritmos musicais. Temos a Amazônia com seus desmatamentos. Temos uma só língua oficial com os variados dialetos regionais e diferentes sotaques, como o nordestino tão apreciado, pelo seu pitoresco, por nosso grande prosador de ficção Érico Veríssimo.
Observe-se a tragédia, agora, no Haiti, na região do Caribe, país sofrido, com problemas crônicas nas questões políticas e sociais. Porto Príncipe, sua capital, com níveis de vida abaixo da linha de pobreza, vivendo conflagrações intestinas, necessitando constantemente do apoio da ONU e de forças de paz, inclusive, do exército brasileiro, que lá tem um contingente há pelo menos cinco anos.
Pois bem, com gostam de dizer os mais velhos, o Haiti, não bastasse seus grandes e sangrentos conflitos internos, agora é devastado por um massacrante terremoto - nunca visto em duzentos anos, afirmou um repórter - catástrofe que, desta vez, não respeitou nem o Palácio do governo presidencial. Pobre e ricos foram vitimados. Contam-se aos milhares os mortos debaixo de escombros de edifícios desmoronados. Infelicidade por toda a parte. “Wasteland’, não a elliotiana, mas a de Porto Príncipe, destroçado sem misericórdia.
No Haiti só há choro, mortos nas ruas, famílias desesperadas, sem destino, sem teto, sem alimento, sem água, sem luz, sem remédio, com falta de médicos, com hospital destruído. Até o socorro dos Médicos Sem Fronteiras lá não está disponível. A Cruz Vermelha, que me consta, está dando apoio na medida das suas possibilidades. Está morrendo gente, muita gente no Haiti. Ajudemos, pois, o Haiti. Mexam-se para isso as nações mais ricas. Até parece que, quando há uma desgraça, uma outra maior e mais intensa de repente surge. Precisamos benzer o Planeta Terra.
Os homens ainda não se deram conta disso. Só as bênçãos são capazes agora de mitigar a tragédia do Haiti. Só Céus terão misericórdia de toda esse infortúnio.
Soldados brasileiros já fazem parte do número de mortos. Lá foram fazer o bem, lutando pela paz. Uma brasileira ilustre, a Dra. Zilda Arns, de 75 anos, médica sanitarista, que em Porto Príncipe, foi coordenadora internacional das Pastorais da Criança e da Pessoa Idosa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, foi infelizmente mais uma vítima do terremoto.Mulher de valor, cuja vida foi construída em favor dos desprotegidos e dos idosos no Brasil e no exterior. Dela sentiremos falta. Há algo errado com o Planeta Terra...

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